Arquitetura de rotor duplo, da alemã Deep Drive, é até 20% mais barata

Muitos “entendido de carros” não sabem, mas a sigla BMW quer dizer “Bayerische Motoren Werke” ou “Fábrica Bávara de Motores”, em português. Portanto, estamos falando de uma empresa que nasceu em Munique, Alemanha, produzindo motores para aviação, em 1916, e só se tornou umas das referências globais em engenharia automotiva, quando falamos de automóveis e motocicletas, meio século depois. Pois bem: é exatamente na mesma cidade que surge uma startup, a Deep Drive, que promete revolucionar o segmento de veículos elétricos (EVs), a partir de 2025, quando inicia a produção comercial de um motor mais eficiente, econômico e sustentável que os atuais, oferecendo desempenho superior ao de seus equivalentes. Na ponta do lápis, a unidade ‘Dual Rotor’ usa 50% menos material magnético e 80% menos ferro, com um custo 30% inferior para cada Newton-metro (Nm) de força – o equivalente a 0,102 mkgf.

“Trata-se de uma tecnologia inovadora, uma mudança de paradigma que vai muito além da otimização dos motores elétricos que são usados, atualmente”, garante ninguém menos que Peter Mertens, ex-membro dos Conselhos da Audi e da Volvo. Mertens, que ocupou as chefias de desenvolvimento técnico da Audi e P&D, na Volvo, agora é investidor e consultor da DeepDrive. “É uma tecnologia fantástica que eles têm aqui e foi exatamente isso que me trouxe para cá”, conta o executivo.

A DeepDrive desenvolveu e patenteou uma arquitetura de rotor duplo que pode ajudar os EVs a atingirem mais de 800 quilômetros de alcance, sem necessidade de recargas das baterias, ao mesmo tempo que reduz os custos de produção dos fabricantes. Seu motor elétrico usa ímãs mais finos do que os do Model 3, da Tesla, o que também reduz a massa do conjunto (seu peso é de 60 quilos, comparado a 100 kg de seu equivalente atual), e seu estator é construído em segmentos empilhados, resultando em menos cortes e economia de matérias-primas. “Outra vantagem fabril é que temos menos etapas para a produção de cada unidade, acelerando o processo”, detalha o presidente-executivo (CEO) da DeepDrive, Felix Poernbacher.

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Centenas de milhares
De acordo com ele, hoje, a startup recebe aportes ou trabalha em parceria com oito das dez maiores companhias automotivas do mundo. “Os trens de força atuais, com o motor elétrico e a transmissão, têm um custo que varia de US$ 1.000 a US$ 1.500 para as montadoras. Podemos reduzir significativamente esse valor, já que nosso produto é até 20% mais barato”, garante Poernbacher. “Os sistemas já reconhecem que nossa tecnologia tem potencial para se tornar o padrão da indústria automotiva, para construção de motores elétricos. Não registramos apenas o produto, mas como ele é fabricado”, enfatiza. “Não miramos um mercado exclusivo, como o da Ferrari, mas grandes escalas e é por isso que garantimos a patente de um processo de produção para centenas de milhares de unidades”.

O novo motor elétrico de rotor duplo e fluxo axial ainda promete maior torque e densidade de potência, otimização do uso de material, menor emissão de ruído, refrigeração mais simples e eficaz. São, realmente, muitos predicados. Aliás, tantos que, não por outra razão, enquanto os tupiniquins defendem o estado mínimo, aceitando pagar para a iniciativa privada por serviços que o governo lhe fornece gratuitamente ou de forma subsidiada, um dos maiores investidores da startup DeepDrive é a Bayern Kapital, empresa de capital de risco do Estado Livre da Baviera. Vendo isso se operar, é como se estivéssemos na contramão da técnica, da sustentabilidade, do avanço, das políticas públicas, da virada da eletromobilidade, da lógica e do que há de mais óbvio; enfim, de tudo…