Produzido pela Leapmotor, tem consumo equivalente a 80 km/l e condução autônoma de Nível 2

O brasileiro, muito possivelmente, vai rever seus conceitos e pagar R$ 150 mil por um EV “made in china”, que tem tudo para desembarcar por aqui com a marca Fiat – ou outra do grupo Stellantis. Para além do que os olhos enxergam, o novo compacto será, em sua essência, o Leapmotor T03, modelo que, se fosse apresentado por nós sem a introdução acima seria malhado como um “Judas da Grande Muralha”. Mas o poder de convencimento dos italianos instigará os tupiniquins e aquele que, hoje, excomunga o T03, vai venerá-lo quando for rebatizado pela Fiat. Espiritualmente, as piores impressões do consumidor se voltaram à fidelidade canina – o que já vimos tantas vezes que nem dá para chamar de “milagre”. O chinesinho de 3,62 metros de comprimento, 8 cm menor que um Renault Kwid, fará o mesmo que Cabral, só que circunavegando o globo pelo lado contrário, e chegará à Terra de Vera Cruz por meio da ‘joint venture’ iniciada a partir da aquisição de 21% do capital da Leapmotor pela gigante franco-ítalo-americano com sede na Holanda, pelo equivalente a R$ 8,7 bilhões.
Nem Marco Polo imaginaria uma rota tão inusitada, mas, quando se trata do brasileiro apaixonado por carros, o amor é volúvel e ilimitado. Se chegar por aqui custando R$ 250 mil, o novo ‘EVzinho’ da Fiat ainda terá quem o compre e o defenda diante da “chinesada”, do “comunismo” – que dó. Na Europa, o T03 e C10, este segundo um SUV maior e mais qualificado, serão os primeiros modelos da Leapmotor a desembarcar por lá, no último trimestre deste ano. A partir daí, o plano é aumentar a oferta, durante os próximos três anos, até o portfólio contar com seis novos EVs, abrindo 200 pontos de venda em todo o Velho Continente.
Mas voltemos ao Brasil e foquemos no T03 que, apesar de ser um pouquinho menor que o Kwid, é 7 cm (1,65 m) mais largo e 12 cm (1,59 m) mais alto que o Renault, levando desvantagem de 2 cm (2,40 m) na distância entre-eixos. A maior diferença, no entanto, está no peso, já que o EV que pode vir com a marca Fiat é 620 quilos mais pesado (1.490 kg). De qualquer forma, o fabricante chinês assegura que o motor elétrico de 80 kW (o equivalente a 107 cv) é mais do que suficiente para o compacto – seu torque instantâneo de 16,1 mkgf garante acelerações prontas, o impulsionando de 0 a 50 km/h em 4,1 segundos.
Sua bateria de fosfato de ferro-lítio (LFP) é fornecida pela Hive Energy e tem capacidade de 41,5 kWh, proporcionando uma autonomia de 403 quilômetros, sem necessidade de recarga – é possível recuperar 80% da carga em apenas 36 minutos, mas usando um carregador rápido ou ‘fast charger’. Em termos de consumo, a Leapmotor declara 11 kWh (de eletricidade) para cada 100 quilômetros rodados, o equivalente a 80,6 km/l em um modelo equipado com motor a combustão. Na China, o pacote tem garantia de oito anos ou 150 mil quilômetros, mas o grande diferencial do T03 não é seu alcance e, sim, a oferta de auxílios de condução autônomos de Nível 2, semelhantes ao dos primeiros modelos da Tesla – algo impensável para um compacto, no Brasil.
Os recursos incluem dez funções automáticas de assistência, como acompanhamento em baixa velocidade (LSF, para o anda-e-pára dos congestionamentos), controle de cruzeiro adaptativo, manutenção de faixa de rodagem (LKA), monitoramento de fadiga (DMS), frenagem automática de emergência e outros. No interior, há um painel de instrumentos digital, com tela de 8 polegadas, e um sistema de infoentretenimento com tela sensível ao toque de 10,1 polegadas, com comandos por voz e sincronização em nuvem, além de navegação. Como se pode ver, é um EV que, apesar de “chover no molhado”, quando comparado a similares chineses, está anos-luz à frente de um Mobi e até mesmo de um Argo.
Na China, o Leapmotor T03 parte de 49.900 yuans (o equivalente a R$ 35.650), na sua versão de entrada. Por aqui, é bem possível que, além da marca Fiat, ele ganhe o pacote mais avançado de conteúdo e veja este valor quase quintuplicar – no mínimo.