Por asfalto e por terra, o SUV da Jeep nos levou a uma maratona pelos engenhos seculares da Paraíba
Escolher uma boa cachaça é uma tarefa difícil no universo de 4.700 rótulos registrados em todo o Brasil. Pensei que a tarefa fosse menos extenuante aqui em Areia, a capital paraibana da cachaça, região do Brejo, terceira cidade com o maior número de engenhos registrados, conforme ranking do Anuário da Cachaça 2020, no Ministério da Agricultura. Engano. Além dos nove engenhos registrados, a cidade tem pelo menos duas dezenas de alambiques artesanais, que atuam informalmente atendendo o mercado local e regional. Muito? Nada disso, é até pouco para a região, que chegou a ter 190 engenhos em funcionamento no Século XVIII, sendo 117 em Areia. Visitamos cinco dos nove alambiques oficiais, mais o Baraúba em Alhandra. Para essa aventura usamos o valente e confortável SUV da Jeep, o Compass, produzido na vizinha Pernambuco.
A fama recente da cidade como referência para a produção do destilado de cana de açúcar incentivou os proprietários a aperfeiçoarem o produto, desenvolverem versões de cachaças especiais, envelhecidas, bem elaboradas, feitas com a colaboração de consultores vindos de fora e o resultado de todo esse processo nós pudemos saborear em cada trago nos sete alambiques visitados na nossa via sacra pelos canaviais paraibanos.
Da enorme e tradicional Matuta à novíssima Elite, passando pela inovadora Triunfo, praticamente todos os engenhos da Paraíba que hoje produzem cachaça nasceram e se desenvolveram com a fabricação de rapadura e açúcar mascavo, durante o período de ouro da cana na região. A produção de cachaças artesanais é relativamente recente.
Assim, o roteiro turístico da cachaça em Areia ainda é embrionário, mas evolui com entusiasmo e esforço da Atura, a Associação Turística Rural e Cultural de Areia, cuja presidente, Adelaide Ribeiro Teixeira, é dona da Cachaça Elite, no distrito de Mata Limpa, a 4 km do centro historio da cidade e que também recebeu a visita dos Provadores de Cachaça.
O turismo da cachaça tem muito a oferecer por aqui e pode se tornar uma alavanca para o incremento da economia local. Maria Julia de Albuquerque faz a sua parte. No seu Engenho Triunfo ela recebe turistas e os conduz à visita ao lugar, onde tem um lago, loja de artesanato, tenda do chocolate, além de uma animada apresentação contando a história do Engenho.
E, claro, o ponto alto da visita é a provação das cachaças. São nove opções, da branquinha à amburana premium, envelhecida dois anos em tonéis de carvalho de 200 litros. Tem duas envelhecidas: uma no jequitibá e outra no bálsamo e uma branca bidestilada.
A proposta de turismo da Triunfo inclui hotelaria, com o acolhedor Hotel Fazenda Triunfo, na zona urbana de Areia. Fátima dos Santos Silva foi quem nos guiou pelos alambiques de Areia e contou a história da cidade, ela que é guia de turismo Regional Nacional e da América do Sul.
O Triunfo, assim como quase todos os outros, era um engenho de rapadura; em 2001 foi iniciada a produção de cachaça e alguns anos depois os proprietários perceberam a necessidade do consumidor e lançaram a garrafa de 250 ml, abrindo um mercado então inexplorado: hoje, praticamente todos os produtores de cachaça no Nordeste utilizam garrafas de 250 ml; virou mania na Paraíba e em Pernambuco. A míni embalagem foi tão bem aceita que a Matuta, uma das marcas mais vendidas no Nordeste inovou mais ainda e passou a engarrafar suas cachaças em latas de alumínio, de 250 ml. Uma das maiores produtoras da região, a Matuta tem uma produção anual de três milhões de litros e uma super estrutura no sítio Vaca Brava, a 10km do centro.
A Matuta passou a oferecer recentemente duas cachaças especiais, dois blends: o Black Blend, feito com madeiras secas: Jequitibá, Castanheira, Jaqueira e os dois carvalhos (americano e europeu) e o Single Blend, que tem um aroma mais suave, feito com cachaças envelhecidas em Amburana e Bálsamo. A tendência do mercado de cachaças especiais, envelhecidas, é registrada no mix de venda da Matuta: há apenas dois anos as cachaças brancas representavam 58% das vendas da empresa. Hoje elas são apenas 32%. Todo o resto (68%) é de cachaça amarela, envelhecida.
No meio do caminho, antes de chegar a Areia, para quem parte de Campina Grande pela BR 230, a cidade de Alhanda é parada obrigatória para todo bom cachaceiro. A cerca de seis quilômetros da rodovia visitamos o Engenho Baraúna. Alexandre Amorim Rodrigues prepara o local para receber turistas interessados em conhecer o processo de produção da bebida brasileira e provar as versões que produz. Com projeto da arquiteta Fernanda Maria Santiago Melo, presidenta da Confraria Quinta da Lapada, Alexandre está construindo uma sede onde montará uma loja e bancada de degustação.
A produção na Baraúna é pequena, apenas 70 mil litros por safra, mas o alambique tem capacidade de 500 mil litros. O forte dos seus negócios, hoje, é a produção de frango de corte, numa granja próxima do alambique. A produção de cachaça contribui para melhorar a performance dos frangos: ele usa o bagaço da cana como cama de frango, para que os animais não criem calos nos pés, exigência do poderoso cliente, a China, que exige pés de frangos sem calos e compra toda a produção de Alexandre.
Infelizmente não pude provar as maravilhas feitas na Baraúna, pois estava sozinho na direção do Compass. Andei algumas centenas de quilômetros com o carro em estradas dos dois estados. O carro tem um desempenho excepcional com seu motor flex 2.0 de 166 cavalos e câmbio automático de seis marchas. É silencioso mesmo operando na terra: tem baixos níveis de ruído e vibração. O consumo com gasolina é de 8,1 km/l na cidade e 10,5 km/l na estrada, segundo a fábrica. Usei apenas gasolina, já que o álcool tem um preço proibitivo por aqui. Não vale a apena usar o combustível de cana de açúcar, o que é bom, pois sobra mais cana-de-açúcar para a produção da cachaça (risos). A gasolina custa em torno de R$ 5,80 e o álcool R$ 5,20. Como você sabe, economicamente só é vantagem usar álcool se o combustível custar menos de 70% do preço da gasolina, que não é o caso por aqui.
Outro alambique tradicional em Areia é o da cachaça Ipueira, a 11 km do centro da cidade, que Donato Feitosa migrou da rapadura para a cachaça, e alambicada há vinte anos, mas que já chegou num apuro de qualidade invejável. Todas são boas: a amburana (seis meses no barril), a bidestilada e mesmo a cristal. Mas a envelhecida por cinco anos em toneis de carvalho francês de primeiro uso é de tomar ajoelhado.
É uma cachaça pra quem gosta de um sabor amadeirado. Além de muito especial, a Ipueira envelhecida no carvalho é muito bem respeitada na cidade de Areias. Em dois dos restaurantes que visitamos os garçons sugeriram a cachaça quando pedi “a melhor que você tem aí”.
A visita à Ipueira foi no final da tarde, nem deu tempo de aproveitar melhor a visita, apesar do carinho com que fomos recebido pelo gerente Nildo Belarmino. E por sorte tinha quem dirigisse o carro e a assim pude desenvolver dois experimentos: provar a excelente Ipueira e fazer o teste do passageiro no SUV da Jeep.
Em meus test-drives para a Agência Autoinforme costumo revelar as impressões ao dirigir, mas desta vez pude compartilhar todos os espaços do Compass para os passageiros. O carro oferece muito conforto, com espaço generoso para as pernas. As estradas de terra que levam a todos os engenhos visitados (com exceção da Triunfo, que é quase só asfalto) nem sempre têm um piso regular. Nessa época de chuvas no Nordeste, a cada momento você se depara com sulcos profundos no leito da estrada, tendo que reduzir a velocidade, às vezes quase parando. A suspensão do Compass é surpreendente, absorve muito bem os impactos, proporcionando muito conforto aos ocupantes. No asfalto, um rodar macio, arrancadas e retomadas eficientes. E um porta-malas generoso: sobrou espaço mesmo com todas as garrafas de cachaça compradas nessa empreitada (risos).
Os dois últimos engenhos visitados em Areia foram Turmalina da Serra e Elite. Na primeira, destaque para uma envelhecida no freijó e outra no carvalho francês com dez anos. O engenho fica numa área muito bem estruturada para receber visitantes, no sítio Boa Vista, a 10 km do centro de Areia. Tem amplas áreas gramadas, um galpão com bar para a provação das cachaças e áreas com sala de estar para o descanso dos visitantes ao lado de um lago piscoso e uma cachoeira, tudo dentro da propriedade.
A Elite é a novata da turma. Tem apenas dois anos, mas uma proposta promissora. A proprietária Adelaide Ribeiro Teixeira, Dona Dedé, prepara o lugar para receber turistas, construiu casas de pau a pique para as pessoas da cidade conhecerem como eram as moradias antigamente e decorou as casinhas com utensílios usados na roça.
A preocupação com a apuração da qualidade da bebida está em cada um dos alambiques de Areia, um indicador de que a cachaça artesanal está conquistando cada vez o consumidor, valorizando a bebida nacional e colocando-a no lugar que ela merece, ombreada com os melhores destilados do mundo.