Elas engajam pela igualdade no automobilismo e promovem debates sobre o esporte

Beatriz Martins na Copa HB20 / Foto: Jennyfer Klaus
A presença feminina nas pistas ao redor do mundo tem se tornado mais frequente nos últimos tempos. De acordo com a Pesquisa Global de Fãs de Fórmula 1, realizada em 2021 pela Nielsen Sports, a participação de mulheres no público de automobilismo teve um aumento significativo.
Considerada a principal modalidade de automobilismo, a Fórmula 1 teve uma única mulher que pontuou na categoria, Lella Lombardi, lembrada por muitas mulheres que acompanham o esporte, mas que hoje buscam mais figuras femininas em papel de destaque no motosport.
Diante desse cenário, questiona-se quem são as inspirações para as mulheres no automobilismo e o que essas esportistas veem e esperam para os próximos anos, visto que a tendência é que o público feminino no motosport cresça ainda mais, e a presença feminina nos boxes e nas pistas ao redor do mundo se torne mais frequente.
Nas redes sociais, as páginas com o intuito de conectar mulheres com o automobilismo também têm crescido, e segundo Gabriela Oliveira, comunicadora e administradora do blog Race Cast, a procura de garotas por categorias de motorsport tem crescido por conta de uma representatividade dentro e fora das pistas: “Eu acho que esse crescimento é porque hoje a gente tem uma representatividade bem maior, ainda longe do ideal, mas que tem aumentado. Temos engenheiras, mecânicas, chefes de equipe e jornalistas”, diz a comunicadora. “Temos uma categoria específica para as mulheres [WSeries], então eu acho que essa representatividade faz com que cada vez mais mulheres se interessem pelo esporte, e eu espero que esse número só cresça”, complementa.
Nos dias 9, 10 e 11 de dezembro de 2022, o Autódromo de Interlagos em São Paulo foi palco da última etapa da Stock Car Pro Series, Stock Series, BRB Fórmula 4 Brasil e a Copa HB20. E, o que acontece nos bastidores dessas corridas, foi mostrado para várias mulheres através de uma iniciativa comandada pelo coletivo Girls Like Racing em parceria com a engenheira mecânica da Amattheis Motorsport, Rachel Loh.
“O evento é para qualquer mulher, de qualquer idade, de qualquer área de interesse no automobilismo, de qualquer profissão, ter acesso ao mundo do esporte a motor”, conta Rachel. “É um dia onde proporcionamos o acesso ao autódromo e todas as categorias que estão atuando no fim de semana, uma oportunidade de networking, elas podem procurar seus profissionais de interesse, podem realizar seus sonhos de conhecerem de perto os pilotos, tirar fotos e pedir autógrafo, além de conhecer a estrutura da Amattheis. Também promovemos rodas de conversa sobre mulher na engenharia, no mercado de trabalho, e, claro, no automobilismo”, explica Loh sobre o funcionamento da visita guiada.

Mulheres visitam o Autódromo de Interlagos em visita guiada / Foto: Reprodução
Poder feminino
Não foi só o público feminino que aumentou nos últimos tempos, as mulheres também têm ganhado espaço nas pistas ao redor do mundo, e inspirado garotas a seguirem no ramo, caso de Bia Martins, de 23 anos, que pilota em diversas categorias e participou em 2021 da Copa HB20 na etapa de Velocitta, em Mogi Guaçu, São Paulo. Na ocasião, Bia disputou na categoria Super e finalizou a primeira corrida em P12, e a segunda em P7.
Fanática por desafios e a adrenalina que as pistas podem proporcionar, Bia viu a Copa HB20 como uma nova e desafiante experiência: “Foi muito legal, eu cheguei em uma pista nova, desconhecida e bastante técnica, que foi a Velocitta, mas nada que me intimidou. Eu tinha pouco tempo, então busquei aproveitar esses minutos preciosos para entender a pista e o carro. Mas a categoria é muito legal, muito disputada e foi uma experiência que sem dúvidas ficou na memória”, conta a pilota. “Eu pretendo voltar para a categoria no ano que vem, mas aí são cenas dos próximos capítulos”, revelou Bia, que contou em primeira mão sobre entrar na categoria da Copa HB20.
Hoje, as redes sociais se tornam um forte combustível para todos mostrarem seus trabalhos para o mundo, e Bia, que é ativa nas plataformas, usa este espaço para mostrar como é sua rotina trabalhando com automobilismo, além de incentivar outras garotas a ingressarem no espaço: “Eu enxergo a minha presença no esporte como uma grande oportunidade, porque é preciso ser exemplo para outras meninas. Sei que não é fácil, mas eu tenho que mostrar as coisas boas e ruins que o esporte oferece”, conta.
Ainda na Copa HB20, as meninas também têm outro nome para se inspirar, Thaline Chicoski, que encerrou a temporada de 2022 em oitavo lugar na categoria elite. A temporada 2023 da Copa Shell HB20 começa em abril e chega com o Novo Hyundai HB20 em oito etapas.

Bia Martins e Thaline Chicoski / Foto: Divulgação
Influência dentro dos boxes
Nos bastidores do automobilismo, mulheres também são destaque e influência para outras. Um exemplo é Hannah Schmitz, a responsável pelas estratégias da Red Bull na Fórmula 1. Engenheira sênior na equipe automobilística, um dos seus feitos mais memoráveis foi quando chamou Max Verstappen, que liderava a corrida no GP de São Paulo em 2019, para os boxes, garantindo a vitória do holandês em Interlagos.
No Brasil, essa influência também existe, e quem exerce esse papel de destaque é Rachel Loh, que atua como engenheira mecânica na Stock Car desde 2005. Com seu prestígio no cenário, ela aproveita o espaço para encorajar mais mulheres a seguirem na área do motosport: “Após a pandemia, onde pude conhecer e interagir com diversos grupos, principalmente o de mulheres apaixonadas por automobilismo, decidi engajar exclusivamente com as mulheres em 2022, lancei uma parceria com o grupo Girls Like Racing, e, fizemos um ano de ações sociais promovendo maior participação no automobilismo”, conta Rachel. “Meu papel é fundamental nesse engajamento”, destaca a engenheira mecânica.
Conforme uma pesquisa levantada pelo Observatório do Turismo, no GP de São Paulo de Fórmula 1 no ano de 2021, 20,7% do público presente no Autódromo de Interlagos era feminino, e, por mais que este número tenha crescido significativamente, Loh avalia que o espaço tem sido conquistado aos poucos: “Mudança no sentido numérico infelizmente é quase nulo, mas muita coisa mudou sim! O assunto já é encarado com mais seriedade e respeito. Oportunidades estão sendo dadas para poucas ainda, mas pelo menos o espaço está aberto! Eu tenho feito muitas ações e colocado muita energia para acelerar esse processo”, conta a engenheira mecânica. “A esperança é que em num futuro mais próximo tenhamos mais mulheres tanto na área técnica do automobilismo, quanto nas arquibancadas”, finaliza.

Rachel Loh atua como engenheira mecânica na Stock Car / Foto: Divulgação
Comunicação como combustível
Além das participações femininas nas áreas técnicas dos esportes de motor ou nas pistas, mulheres também estão trabalhando na área da comunicação, seja na frente das câmeras ou nos bastidores, muitas garotas sonham em seguir no ramo esportivo, conforme destacou Priscila Alves, que conta com um projeto nas redes sociais para promover debates sobre categorias do automobilismo entre mulheres.
Novos perfis e blogs têm surgido com o intuito de promover os esportes de motor entre as mulheres, e atualmente, diversas plataformas digitais servem de palco para a comunicação esportiva.
No Twitter, contas com um linguajar simples e intuitivo chamam atenção daqueles que estão buscando debater o esporte, ou até mesmo acompanhar em tempo real a cobertura de algumas modalidades. No Instagram, o que se destaca são postagens informativas, com vídeos de curiosidades e conteúdos em carrossel, sejam de notícias atuais, ou informações mais frias. Já no TikTok, a comunicação é feita de uma maneira mais rápida, com vídeos que apresentam categorias, informações, vlogs e conteúdo esportivo em geral.
Um nome apontado, tanto por Priscila Alves, quanto por Gabriela Oliveira, comunicadoras de esportes de motor, foi Mariana Becker. Ambas concordaram sobre a influência da jornalista em coberturas automobilísticas: “A Mariana Becker abriu muitas portas e eu a vejo dentro do paddock como um destaque, porque ela ama corrida, ama Fórmula 1, ama tanto quanto um fã, é mais que um trabalho para ela, e eu também, eu amo e me enxergo muito nela”, conta Priscila.
Hoje, com uma representatividade feminina evidente, Priscila Alves ainda destaca a importância de incluir mulheres em todas as áreas do automobilismo, e segundo ela, essa questão é algo que ainda precisa ser trabalhado: “Deveriam ter mais mulheres competindo, mulheres engenheiras, líderes de equipe e jornalistas. Não estou falando de uma vaga ou cota, estou falando de muita gente. Não é possível que os melhores sejam apenas os homens.”, finaliza.
Por Bruna Tavares, estudante de jornalismo da Universidade Metodista
Reportagem campeã do IX Prêmio Autoinforme Estudantes de Jornalismo










