Elon Musk pede barreiras comerciais para evitar “ruína” das montadoras ocidentais


“Liberal nos costumes e conservador na economia”. O bordão propositalmente invertido seria, hoje, a melhor definição para Elon Musk, presidente-executivo (CEO) da Tesla, que chocou os analistas de Wall Street durante a “post-earnings call” – coletiva em que se divulgam os relatórios trimestrais de lucro para acionistas e a imprensa – da última quinta-feira. “Os EVs chineses são extremamente competitivos, muito bons, e terão sucesso no mercado global. Se não criarmos barreiras comerciais, eles vão demolir os fabricantes tradicionais, arruinando a maioria das marcas norte-americanas e europeias”, alertou Musk. Na prática, ele pede exatamente o oposto daquilo que prega, quando veste a capa do anarcocapitalismo: mais impostos, só que para taxar apenas seus concorrentes.

“Já reduzimos nossos custos até o limite, baixamos nossas margens de lucro e é óbvio que isso preocupa os investidores”, reconheceu o chefão, que recentemente entrou numa verdadeira guerra com a BYD, cortando drasticamente os preços de tabela de seus modelos. Apesar do grande esforço, a gigante chinesa ultrapassou a Tesla e tomou a liderança mundial entre os EVs, no final de 2023.

Diante da dura realidade, o liberalismo de Musk, agora, se limita aos costumes, já que no campo econômico ele passa a clamar por aumentos das cargas tributárias nos países ocidentais, de olho na salvação do seu próprio negócio. Nem mesmo o aguardado lançamento de um EV mais “em conta”, previsto para meados de 2025, conseguiu conter a grande queda das ações da Tesla, neste início de 2024. Em apenas 25 dias, os papéis da marca perderam 26,5% de seu valor e, hoje, sua capitalização de mercado que chegou a US$ 1,06 trilhão (o equivalente a R$ 5,2 trilhões ou o dobro de toda a arrecadação federal brasileira, no ano passado), em 2021, caiu para a casa de US$ 580 milhões.

Ou seja, quem investiu seu suado dinheirinho no fabricante, há exatamente dois anos, tem apenas 47% do valor aplicado para ser resgatado – se tivesse comprado uma frota de Chevettes teria feito melhor negócio.

Mas o tiro dado por Elon Musk parece ter saído pela culatra, porque a Tesla perdeu nada menos que US$ 82 bilhões (o equivalente a R$ 400 bilhões) e um único dia, após suas declarações. Apenas para o leitor ter uma ideia, a queda da capitalização de mercado da marca equivale a pouco menos dos valores somados de General Motors (US$ 48 bilhões) e Ford (R$ 45 bilhões). “Se a própria Tesla antecipa que não chegará nem perto de atender às suas próprias expectativas ou às de Wall Street para 2024, tanto em termos de volume comercial como em margem de lucro, os valores de suas ações cairão. Resta saber se, para os investidores, elas ainda serão um bom negócio, mesmo com preços mais baixos”, pondera o analista da revista “Fortune”, Marco Quiroz-Gutierrez.

É esperar para ver…