Marcio Lima Leite, presidente da Anfavea, diz que foi a boa vontade de governo, indústria e trabalhadores e a previsibilidade jurídica que construíram as bases para os novos investimentos

Marcio Lima Leite, presidente da Anfavea

Em poucas semanas, várias montadoras anunciaram importantes investimentos no Brasil. Foram R$ 9 bilhões da GM, R$ 5 bilhões da Hyundai, R$ 11 bilhões da Toyota “na maior operação da marca em seus 66 anos de Brasil” e R$ 30 bilhões da Stellantis, anunciado na última quarta-feira (6/3/24) pelo CEO Global da empresa, Carlos Tavares, que esteve em Brasília para revelar ao presidente Lula “o maior investimento da história da indústria automotiva”.

Para Marcio Lima Leite, presidente da Anfavea, essa onda de investimentos ocorre por um conjunto de fatores, que inclui a boa vontade das partes envolvidas na produção (governo, indústria e trabalhadores) e, principalmente, à previsibilidade jurídica. Nesta entrevista exclusiva à Agência Autoinforme, Marcio Lima Leite fala ainda sobre as previsões de crescimento das vendas no mercado interno e avalia como o Brasil vai se comportar diante das novas energias para a mobilidade e a necessidade de redução drásticas das emissões de CO2. Ele acredita que o etanol terá papel importante na redução das emissões, mas disse, categoricamente, que em dois anos nós teremos produção de carro elétrico no Brasil.

JL: Como você vê essa onda de investimentos das montadoras em suas operações no Brasil?
ML: Isso para o Brasil é motivo de muito orgulho. O governo tem se esforçado, o setor privado e os trabalhadores têm se esforçado e em conjunto nós conseguimos organizar esse arcabouço de legislação que está propiciando os investimentos. O que a gente sempre colocava era que o Brasil precisa de previsibilidade e ela está acontecendo. Essa previsibilidade, somada ao programa Mover, à eficiência energética, à segurança veicular, isso acaba propiciando os investimentos. E o que nós precisamos no Brasil são investimentos, geração de emprego, pesquisa, desenvolvimento e a localização privilegiando sempre os fornecedores que estão no Brasil.

JL: Eu acho que nunca houve uma série de investimentos tão grandes como se está tendo agora não? Isso vai resultar no aumento das vendas no Brasil? Está próximo de chegar aos 3,5 milhões como já tivemos um dia ou ainda está longe?
ML: Nós acreditamos que em três anos nós superamos a marca de três milhões de veículos, pelo crescimento que tem sido apresentado até agora. Esse ano também haverá um crescimento importante, graças à redução da taxa de juros, o marco da garantia. Todo esse contexto macroeconômico também irá contribuir para o crescimento do setor.

JL: Falando em números, qual é a previsão para 2024?
ML: Nós passaremos de 2,4 milhões de unidades, que representa um crescimento de 7% em relação ao ano anterior e a expectativa é manter um crescimento superior a esse para os próximos anos.

JL: Mais de 7% ano a ano?
ML: Sim, se as condições assim permitirem.

JL: O custo do investimento em novas tecnologias é grande, por isso o preço final do carro acaba aumentando. Como você vê o segmento dos carros de entrada, ou “populares”? Você acha que o Brasil vai ter mais oportunidade com essas novas tecnologias de criar um carro que o consumidor brasileiro tenha mais acesso, ou seja, ampliar o volume de vendas?
ML: Quem vai ditar isso é o consumidor, não é a montadora, não é o fabricante. O fabricante está para atender onde houver a demanda. No Brasil ocorreu nos últimos anos uma migração dessa demanda, principalmente para os SUVs, para as picapes, veículos de valor mais alto. Isso muito em função das novas tecnologias, com os investimentos que foram feitos, o que elevou os custos do automóvel. Mas o maior problema da aquisição do carro zero foi a taxa de juros. Vamos imaginar que um consumidor que queira comprar seu primeiro carro pague 30% de juros ao ano. É uma taxa irreal. Nós estamos trabalhando com um cenário em que com a queda da taxa de juros o custo do dinheiro vai ficar mais acessível. É isso que precisa para termos uma diversidade maior de gama.

JL: Hoje existe uma discussão em relação ao carro elétrico: elétrico ou a combustão? Muitas empresas optando pela combustão, outras apostando na eletrificação. Como você enxerga o Brasil num futuro próximo nessa linha?
ML: O Brasil continuará sendo um país eclético. Nós vamos ter todas as opções. Mas algumas soluções têm um custo mais elevado, então serão soluções para um nicho de mercado. Outras irão propiciar uma descarbonização também eficiente, mas a um custo mais atrativo. O processo de descarbonização passará necessariamente por um incremento da utilização do etanol, isso é um fato, mas também teremos tecnologias como os elétricos, baterias.

JL: As montadoras que já estão no Brasil vão investir no carro elétrico puro?
ML: Sim, em dois anos nós teremos produção de carro elétrico no Brasil. Essa é a nossa estimativa e é claro um volume ainda não tão expressivo, mas em dois anos a gente começa com a fabricação de veículo elétrico no Brasil.

Se preferir, ouça aqui a entrevista do Joel Leite com o presidente da Anfavea