Por Guilherme Cavalcante, CEO e fundador do app UCorp, especialista em produtos digitais com foco em mobilidade
Para começar vale destacar que todas as montadoras apostaram na eletrificação para se reinventar, foi um all in no setor. O ano mal começou e aqui no Brasil temos 17 novos modelos de veículos 100% elétricos, o número é parecido com o da Europa, onde são lançados 20 novos desses modelos todo ano. A venda no velho continente é bem mais significativa, fica em 25% do total, enquanto por aqui estamos na casa 2,4% ao ano. É o conceito ESG ganhando força na mobilidade e criando verticais de negócios no setor automotivo.
O investimento em infraestrutura de recarga ainda é o maior desafio para a popularização de uma frota eletrificada, afinal é preciso lembrar que o crescimento do setor está diretamente ligado ao aumento do investimento em locais de recarga. É fato que também evoluímos nesse aspecto e contamos com opções de carregamento de veículos em casa e em alguns pontos semipúblicos, como shoppings e supermercados, facilitando o acesso. Mas a experiência de ter um EV está restrita aos grandes centros urbanos, e não se reflete no restante do país.
A valorização do setor de biocombustíveis e os lobbies petroleiros em forma de fake News também interferem na escala da eletrificação das frotas no Brasil. É verdade que etanol e biodiesel, de certa forma, emitem uma menor taxa de gases do efeito estufa, porém nada comparado aos benefícios de veículos 100% elétricos. No entanto, o setor da combustão ainda é muito forte, e a falta de DNA associativo pode afetar a difusão rápida dos veículos elétricos e híbridos ou de alternativas de mobilidade 100% elétricas.
Na COP26, Conferência do Clima das Nações Unidas, em Glasgow, Escócia, o Brasil anunciou que até 2030 irá reduzir em 50% as emissões de gases poluentes. Apostar na eletrificação da frota é a melhor alternativa para alcançar ser, pois o setor de mobilidade urbana é responsável por 25% das emissões globais de gases de efeito estufa, sendo 45% causadas por veículos leves.
A nova mobilidade brasileira (New Mobility), está num excelente momento de crescimento em vários setores da economia, principalmente no automotivoe a agenda ESG foi a protagonista de uma revolução silenciosa o que contribui para popularizar a frota elétrica por aqui. E os números mostram isso. No ano passado, a venda de eletrificados, que engloba elétricos, híbridos plug-in e híbridos, atingiu a marca de 30.445 unidades, isso de janeiro a novembro, pois os dados de dezembro ainda não foram divulgados. Esse total indica uma alta de 57% em relação ao mesmo período de 2020.
Outras importantes apostas para este mercado em 2022 são a evolução da tecnologia, a desburocratização e os avanços regulatórios, além da utilização de blockhain no gerenciamento de contratos e transações de Tokens de CO2. Na capital paulista, por exemplo, a lei 17.336, em vigor desde o primeiro trimestre de 2021, exige que os novos empreendimentos, imobiliário, comercial e residencial, sejam entregues com pontos de recarga e energia limpa para veículos elétricos e híbridos.
A adoção de estados à isenção do Imposto de Importação e a redução do IPI de carros elétricos também é um outro fator positivo para o mercado. Outro ponto a ser levado em consideração, e como um bom exemplo para a transição da frota comum para a elétrica, é o aumento da utilização de motos, bicicletas e patinetes elétricos.
Esse cenário mostra que de fato passamos a “zona de arrebentação”, mas precisamos ficar atentos para permanecer na mesma página que os europeus, por exemplo. Não se pode descansar ou desviar o olhar das barreiras para que seja cada vez mais popularizada a transição da frota atual para a elétrica. E isso só será possível com mais apostas e investimento em infraestrutura, que manterão nosso país na rota a da eletrificação, pois essa é a nova realidade global da mobilidade dos grandes centros urbanos rumo a redução das emissões de CO2.
Guilherme Cavalcante, CEO e fundador do app UCorp, especialista em produtos digitais com foco em mobilidade