Segunda geração do Hongguang Mini, da Wuling, já está à venda na China; tem autonomia de 205 km
O terraplanismo automotivo arranja desculpa para tudo e essa virtude dos negacionistas temos que reconhecer. De modo que o sujeito é capaz de justificar as qualidades ambientais das caldeiras a carvão e dos motores a combustão interna, frente os mais modernos EVs, com a mesma ênfase com que desanca as obras de Bach, Mozart e Beethoven para enaltecer a obra de Gusttavo Lima. Mas no mundo concreto, no bom e velho mercado, é a relação custo/benefício que acaba por dar jeito em tudo.
E seguindo o mantra neoliberal, fica difícil de desmerecer a segunda geração do Wuling Hongguang Mini EV, que acaba de ser apresentada do outro lado do mundo, na sua versão de quatro (ou cinco, se o leitor preferir) portas. Com preço inicial de 44.800 yuans (o equivalente a inacreditáveis R$ 35.430), o consumidor chinês leva para casa um compacto de 3,25 metros de comprimento – 43 cm menor que o Kwid nacional, da Renault, que parte de exorbitantes R$ 77,3 mil –, com alcance de 205 quilômetros, sem necessidade de recarga das baterias, e consumo médio – de eletricidade – equivalente a 82,6 km/l.
Antes que a histeria tome conta dos comentários, é bom sublinhar que, como todo e qualquer EV, o Hongguang Mini de quatro portas não usa gasolina, álcool, querosene, cachaça, corote, chá de cana ou biogás como combustível. Todavia, a Matemática – esta verdadeira glória do heliocentrismo – nos permite usar variáveis para uma equivalência em termos de eficiência e, com base na ciência e não nas recomendações de investimento do presidente argentino Javier Milei, temos um mini EV cujo custo do quilômetro rodado fica abaixo de R$ 0,08 (oito centavinhos), contra R$ 0,42 do Kwid, na melhor das hipóteses e segundo dados da própria Renault.
Apesar de o lançamento já estar à venda, na China, seu desembarque no Brasil é improvável – para não dizer utópico. Lá, o mini EV promete requalificar um dos segmentos mais importantes do mercado asiático: o dos kei cars elétricos. Comparada com a primeira, esta segunda geração sobressai pelo design, pelas melhores acomodações e pela maior oferta de conteúdo, além da segurança que foi reforçada com uso aço de alta resistência em 67% da estrutura do habitáculo, do duplo airbag de série – a primeira geração dispunha de apenas uma bolsa inflável e, mesmo assim, como opcional – e do controle eletrônico de estabilidade (ESC).
Nova plataforma
O novo Hongguang Mini EV estreia uma plataforma inédita (Tyaniu S) e traz um pacote de baterias desenvolvido pela própria Wuling, com estrutura integrada e célula não inflamável. Com 16,2 kWh de capacidade, garante alcance razoável para uso exclusivamente urbano, e leva apenas 35 minutos para recuperação de 80% da carga. Seu motor de 30 kW garante bom desempenho para um subcompacto que não tem pretensões esportivas, mas acelera de 0 a 50 km/h em 4,9 s e atinge a velocidade máxima (limitada eletronicamente) de 100 km/h – nunca é demais lembrar que o lançamento se enquadra em uma classe de citadinos que tem circulação limitada a zonas metropolitanas; então, antes que o sabichão pondere que seria impossível enfrentar carretas e bitrens nas rodovias com o modelo, é bom sublinhar que, mesmo no seu mercado de origem, ele é dimensionado, homologado e autorizado apenas para uso urbano.
Como a maioria dos modelos made in China, o lançamento dispõe de um aplicativo que permite ao usuário acessar todos os status do veículo, bem como controlar remotamente as travas das portas, a partida e o ar-condicionado, mimos impensáveis na franciscana primeira geração. Até o freio de mão foi substituído por uma versão eletrônica com retenção automática – o famoso auxílio para arranque em ladeiras. No centro do console, fica uma tela de infotainment de oito polegadas, onde são exibidas as imagens do sensor de estacionamento com câmera de ré.
Mesmo com dimensões diminutas, o Hongguang Mini EV acomoda até quatro ocupantes e dispõe de 123 litros de capacidade volumétrica no seu modestíssimo porta-malas – com o encosto traseiro rebatido, o espaço sobe para 735 litros. Nada mal para um subcompacto que custa menos do que o dobro da CG 160 Titan (a partir de R$ 19.520), da Honda, que é uma motocicleta. E para os preconceituosos, não estamos falando de um automóvel xinguelingue, termo pejorativo que, falemos a verdade, fez jus a muitos produtos chineses que desembarcaram por aqui, no início dos anos 90. Mas isso faz três décadas e, por trás deste mini EV, existem pelo menos duas gigantes automotivas: a SAIC Motor (titã estatal que produz mais de cinco milhões de veículos anualmente, dona de 50,1% da joint venture), a General Motors (dona de 44%) e a Guangxi Auto (dona de 5,9%).
No mais, trata-se de um mini EV que promete redefinir o conceito de urbanoide elétrico, com um custo de aquisição baixíssimo, uma construção inovadora, boa oferta de conteúdo e um consumo – de eletricidade – inferior ao da própria CG 160.