Brasil exponencia tendência mundial com modelos totalmente elétricos crescendo 219%
Demorou, mas finalmente saíram os números consolidados com o desempenho comercial dos veículos elétricos (EVs), em 2024. Ao contrário do que notícias falsas vinham prevendo, as vendas globais da classe cresceram 25%, sobre 2023, somando 17,1 milhões de unidades entre carros elétricos de passeio e comerciais leves. “Embora o mercado mundial tenha crescido, notamos, pela primeira vez, grandes disparidades regionais, como o contraponto entre a alta de 40%, na China, e o encolhimento de 3% na Europa como um todo. Nos Estados Unidos e no Canadá, a expansão foi de 9%, enquanto as demais regiões, somadas, viram os EVs darem um salto de 27%”, comenta o gerente de dados da Rho Motion, consultoria britânica que fornece dados de transporte, tecnologia e finanças para países em transição energética, Charles Lester. “Em termos políticos, o ano passado deixou claro que os governos têm uma influência direta neste segmento, por meio da oferta, caso do Reino Unido, ou da suspensão, caso da Alemanha, de subsídios fiscais”, acrescenta Lester.
No Brasil, os veículos eletrificados – soma dos micro-híbridos (híbridos de mentirinha, sem tração elétrica), dos híbridos puros, dos plug-in e dos modelos 100% elétricos – superaram as previsões mais otimistas e fecharam 2024 com 177,3 mil unidades. Contrariando a sabotagem que influenciadores e até mesmo jornalistas vêm promovendo, gente desonesta que ufana a perpetuação de automóveis ultrapassados e ineficientes, equipados com motores a combustão interna, os EVs superaram a marca de 60 mil unidades e, com 61,6 mil emplacamentos, fecharam o ano passado com alta de 219% – isso mesmo, duzentos e dezenove por cento! – sobre 2023. Apenas para o leitor ter uma base comparativa, o mercado brasileiro registrou um crescimento 15 vezes menor, proporcionalmente, de 14%.
“No Brasil, foi um ano espetacular para a eletromobilidade, um ano de crescimento sustentável e números muito expressivos”, disse o presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Ricardo Bastos. “Temos muito a comemorar, incluindo a ampliação da rede de infraestrutura de recarga que, em dezembro, já contava com mais de 12 mil pontos de recarga públicos e semi-públicos espalhados por todo o país, reduzindo as incertezas quanto ao uso de EVs em viagens de longas distâncias”, destaca Bastos. Na prática, estes números – tanto os do mercado global quanto os do mercado brasileiro – blindam o leitor do papo-furado que muito Pinóquio anda contando por aí, desinformando o consumidor ao tempo em que o convence a pagar R$ 150 mil, R$ 250 mil por modelos equipados com motores a combustão que colecionam reprovações em testes de segurança.
Model Y e Dolphin Mini
O Model Y, da Tesla, fechou o ano passado como o EV mais vendido do mundo, com 1,17 milhão de unidades. A lista com os dez líderes globais é completada pelo Model 3 (533,5 mil unidades), também da Tesla, pelos BYD Dolphin Mini (489 mil) e Atto3 (356,6 mil), pelo Wuling HongGuang Mini (261,1 mil), pelos BYD Destroyer 05 (236,2 mil), Qin L (229,5 mil) e Dolphin (221,5 mil), pelo Wuling Bingo (215,4 mil) e pelo BYD Seal 06 (199,8 mil). Já na disputa das marcas e grupos automotivos, estratificando apenas as vendas de veículos 100% elétricos (portanto, excluindo os híbridos plug-in), a Tesla mantém a liderança, com uma fatia de 16,5% do bolo, seguida de perto pela BYD (com uma participação global de 16,3%). Geely-Volvo (com 8,5%), SAIC (com 7,6%) e Volkswagen (com 6,9%) fecham a lista com os cinco líderes mundiais – os 44,1% restantes divididos por diversas montadoras e companhias. Se somarmos os híbridos plug-in (apenas eles, excluindo micro-híbridos e híbridos puros), a BYD ultrapassa a Tesla, ficando uma fatia de 24,7%.
“Em 2024, a Tesla vendeu 1,79 milhão de EVs, o que representou uma queda de 1,1% em relação às comercializações de 2023 – foi a primeira retração experimentada pela marca, desde 2015. Enquanto isso, a BYD vendeu 1,77 milhão de EVs no ano passado, um aumento de 12%. “Isso significa que a Tesla mantém a lideranças mundial, mas a vantagem de 220 mil unidades que tinha sobre a BYD, no ano retrasado, foi reduzida a 30 mil unidades, em 2024”, pontua o secretário-geral da associação dos fabricantes chineses (CPCA), que equivale à Anfavea de lá, Cui Dongshu. “No ano passado, os EVs produzidos na China alcançaram uma participação global de 70%, em que destacamos a performance de montadoras como a Changan Automobile e a Zeekr, que registraram ganhos de 50% sobre 2023”, acrescenta Dongshu.
A China segue com a maior rede de carregamento de EVs do mundo, não apenas com o maior número de pontos, mas a maior cobertura de serviços. “Em 2024, o número total superou 9,92 milhões de estações, representando um aumento anual de 56%”, detalha o porta-voz da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (NDRC), a principal agência de planejamento econômico do país, Li Chao. “O número de estações públicas de recarga aumentou 46%, em relação a 2023, para 3,05 milhões, enquanto o número de pontos privados/domésticos aumentou 61% para 6,8 milhões. Só no primeiro semestre de 2025, vamos adicionar 3.000 estações de carregamento e 5.000 vagas em áreas rodoviárias de serviço”, informa Chao.
Já na terra do Tio Sam, o negacionismo do presidente Donald Trump tende a atrasar ainda mais os planos iniciados na gestão de Joe Biden. Os Estados Unidos tinham um plano ambicioso para construir 500 mil estações de recarga, mas dois anos e US$ 7,5 bilhões depois, apenas sete estações desse plano estão em operação.