“Tirou o carro da concessionária, perdeu 20%”.

Durante algum tempo essa foi a realidade do mercado brasileiro, ou pelo menos era esse o imaginário popular: o carro perdia o valor rapidamente após alguns meses de uso.

Quando iniciamos o Estudo de Depreciação de Veículos, há vinte anos, ajudamos a derrubar por terra esse tabu, revelando, no primeiro ano do estudo, em 2021, que o Palio perdia apenas 7,2% após um ano de uso. E assim sucessivamente, nos anos seguintes, carros como Celta, Strada, Onix, Compass, Yaris e Onix Plus perderam, todos eles, menos de 10% do preço. E o Honda HR-V teve a mais baixa depreciação em 19 anos vinte anos: 4,5%. Parecia que tínhamos chegado à menor desvalorização possível. Estávamos enganados.

Nesse excepcional ano de 2021nem dá pra usar a palavra “depreciação”, ao contrário, em vez de pensar quanto o carro vai perder depois de um ano de uso, o consumidor quer saber quanto ele vai valorizar.

A situação de 2021 lembra os anos 1990, quando o carro usado valorizava mais do que moedas estrangeiras, papeis bancários, ações na Bolsa.Carros como Gol e Brasília eram conhecidos como “cheque visado”, tamanha era a sua liquidez no mercado de usados.

Sem contar o período do Plano Cruzado, em 1986, quando muita gente comprava carro para investimento: deixava na garagem e vendia depois de seis meses, angariando altos lucros.

Hoje também estamos vivendo um ano totalmente atípico, em função do desabastecimento da indústria por causa da crise mundial do coronavírus. Essa anomalia provocou uma tremenda distorção nos preços, uma vez que, na falta do modelo OK, o comprador migrou para o seminovo, o preço explodiu e os demais usados seguiram o mesmo caminho, fazendo com que o setor de carros usados como um todo se transformasse num valioso fator de crescimento econômico.

O resultado, constatado pelo Selo Maior Valor de Revenda 2021, entregue aos ganhadores no último 28 de outubro, revelou que TODOS os vencedores das 17 categorias apresentaram índices positivos, sendo que o caro mais valorizado do ano, o Hyundai HB20, teve uma valorização de 17,2%.

Dos 126 modelos que fizeram parte da etapa final do Estudo, somente 25 apresentaram depreciação; os outros 101 valorizaram depois de um ano de uso, 43 deles com índices acima de 10%.

Diante desse cenário fica difícil fazer uma previsão, mas analistas preveem o início de uma normalização no fornecimento e portanto o resgate do patamar de preços somente para o segundo trimestre de 2022. Até lá, muita cautela nos negócios!