
Por Diego Castellari
Era grande a minha expectativa para ver o retorno do Salão do automóvel de São Paulo, um evento que marcou a minha vida desde a infância. Ainda mais lá no Anhembi, onde sempre foi e de onde nunca deveria ter saído.
Ainda menino eu ficava maluco com aqueles estandes enormes, brindes, atividades, shows e, claro, um mundo de carros novos pra conhecer. Ah, como era legal! E precisava de dois, três dias para poder ver todas as novidades. Saia de lá cheio de sacolas, com folhetos, bonés, camisetas e feliz da vida que ainda tinha que voltar no dia seguinte.
Anos depois, já como jornalista especializado na área, o salão do automóvel passou a ser um desafio. Eram muitos assuntos, lançamentos, protótipos…. dias e dias de trabalho intenso na Autoinforme: textos, boletins de rádio, reportagens de TV, entrevistas sem fim. Mas era uma delícia poder estar ali, na fonte, vendo as novidades em primeira mão e criando reportagens interessantes.
As montadoras tinham estandes enormes e as coletivas de imprensa, quando apresentam as novidades para os jornalistas, terminavam sempre com a entrega de um super presente para os repórteres, os famosos jabaculês.
Não, não eram lembrancinhas. Eram presentes mesmo, óculos importados, tablets, equipamentos eletrônicos, roupas de grife, miniaturas, eletrodomésticos e até…carros. Isso mesmo. Algumas montadoras sorteavam carros para os jornalistas em eventos de lançamento. Eram tantos presentes que tínhamos que ir para o estacionamento, duas, três vezes por dia, pra guardar no carro.
E as festas, os happy hours…. como eram especiais! No fim do dia, várias montadoras ofereciam eventos nos estandes, regados a comida e bebida de primeira, shows, artistas. Era a hora dos colegas relaxar, trocar informações, falar das novidades, beber, paquerar. Acabava um e já corríamos pra outro.
Foi numa dessas que um ano quase deu ruim. Era uma festa no estande da Volkswagen. Um estande enorme e uma área vip de dois andares, luxuosa. Lá estavam mais de 100 jornalistas, no segundo andar, onde seria servido um jantar de gala. Estava na mesa com alguns colegas e resolvi ir até o bar, pedir um chopp.
Foi quando ouvi um enorme estrondo. De repente, tudo começou a desabar. Vi todo mundo caindo, uma baita gritaria, gente machucada, um mundo de vidros quebrados. A estrutura não aguentou o peso e rompeu, implodiu. Do segundo andar ficou só o bar, onde eu estava. Eu e o garçom. Pra descer tive que quebrar um vidro e pular. Foi uma loucura. Ainda bem que, no fim das contas, apesar de alguns ferimentos sérios, nada de mais grave aconteceu. Nem lembro em que ano foi isso.
Tudo isso marcou muito a minha vida, ainda mais na primeira década dos anos 2000, quando o salão atingiu o seu auge (mais de 700 mil visitantes) e eu atuava como repórter e apresentador do Auto Esporte, da TV Globo. Foram reportagens marcantes, algumas ainda disponíveis no youtube. Teve um ano que apresentei o programa dentro do Salão. A Globo construiu um estande para o Auto Esporte. Quem nos visitava ganhava brindes e tirava fotos com a equipe. Ainda guardo algumas dessas fotos e brindes…. um carro antigo, um avião e uma moto com o logotipo de programa. Ah e tinha também um cone (desses de trânsito) em miniatura. Vinha numa caixinha com o emblema do programa.
Ah, tinha também uma outra tradição no Salão. O buzinaço no último dia. Como aquilo era legal. No último dia do evento, todos os carros, de todas as marcas, tocavam a buzina por alguns minutos. Uma loucura.
Depois de 2010, o Salão de São Paulo começou a perder o fôlego. Ainda assim, sempre com algumas novidades…. Mas tudo começou a ficar diferente. As montadoras começaram a tirar o pé do evento, algumas nem mais estavam presentes. Acabaram as festinhas. Chegaram a tirar o evento do Anhembi, um absurdo. Não emplacou. Até que em 2018 acabou de vez, trocado por eventos mais ligados a experiências, como Festival Interlagos, onde as montadoras também mostram os carros e os visitantes podem acelerar de verdade, e no circuito mais famoso do Brasil.
Tudo muito legal. Só que não. Nunca aceitei o fim do Salão do automóvel de São Paulo. Até que fiquei sabendo que depois de sete anos ele iria voltar. Ufa! E num renovado Anhembi, agora chamado de Distrito Anhembi.
Providenciei o meu credenciamento o mais rápido que pude. O primeiro dia de evento foi bem legal e aguçou ainda mais a minha curiosidade. Ainda de portas fechadas, os jornalistas foram recebidos num imenso auditório, onde as marcas presentes fizeram as coletivas de imprensa. Todas juntas, no mesmo lugar, uma após a outra. O clima era bom, muitos jornalistas, de todo o País, de fora também, evento lotado. Todo mundo ansioso para reviver os dias de glória.
Mas tinha alguma coisa estranha no ar. Volks, Chevrolet, Ford, Mercedes-Benz, BMW, Volvo, Porsche, Ferrari…fora do Salão? Como assim? Ausências de peso. Mas ok. As coisas mudam. Até porque no lugar delas, um monte de marcas chinesas estavam lá… BYD, GWM, Omoda, Geely e outras que nem sei o nome. Os carros elétricos são as sensações do momento.
E foi assim, com essa expectativa e essa bagagem nas costas, que finalmente fui ver a volta do Salão do Automóvel de São Paulo. Cheguei ao Anhembi felizão da vida, credencial no peito, claro, ansioso. Entrei na catraca de jornalistas, eu e o cinegrafista, e fiquei parado por cinco minutos observando. Até que perguntei pra mim mesmo…. uai, mas cadê o Salão?
Desculpe, mas não dá pra chamar esse evento de 2025 de Salão do Automóvel de São Paulo. Não que o evento esteja feio. Longe disso. Está até que bem simpático, com carros clássicos de cair o queixo, como uma Ferrari F40, um Hofstteter, um GOL GTI zerado e maus uma porção de relíquias.
Mas pra quem já viveu os anos dourados desse evento, me senti no máximo numa feira de carros. Do lado direito um monte de carrinhos de food truck. Do lado esquerdo um espaço minúsculo para test-drive. No meio, estandes pequeninos, com poucos carros expostos. Quase nenhuma novidade. Nenhum show, nada de glamour. Pouca gente. O que eu vi de mais legal lá foi um carro voador, estilo drone, futurista.
É uma feira de carros chineses, onde os visitantes também podem ver alguns (poucos) carros da Renault, Honda, Hyundai, Toyota, Mitsubishi, Kia, Caoa Cherry e do grupo Stellantis (Fiat, Ram, Jeep, Peugeot, Citroen e Leap). Em duas ou três horas dá pra ver tudo. Ainda assim, pra quem gosta de carro, vale a visita.
Confesso que foi muito difícil não ver, por exemplo, o estande da Volkswagen, enorme, repleto de carros, shows, criançada… na verdade falta muita coisa. Principalmente carros.
Mas tudo bem. É uma retomada. Um novo ciclo. O importante é que o evento está de volta. E acredito que aos poucos, nos próximos anos, todas as montadoras devam voltar. Eu vou ficar aqui na torcida, porque estou louco pra ver o Salão do Automóvel de volta, gigante, cheio de história, palco dos principais lançamentos do mercado, cheio de gente, maravilhoso. Como sempre foi.










