Hypersquare tem relação ultradireita e gira apenas 170° para cada lado

Pouca gente se dá conta, mas a virada da eletromobilidade vai popularizar tecnologias que, hoje, são vistas como ficção científica, até pela impossibilidade de implementar muitas delas em veículos equipados com motor a combustão. Revelado em junho de 2024, pela Peugeot, o volante que dispensa a coluna de direção física já é realidade e, na semana passada, foi posto à prova para a imprensa especializada europeia. Denominado Hypersquare, o dispositivo substitui o volante tradicional com base na tecnologia ‘steer-by-wire’ e um sistema digital em que comandos elétricos exercem funções que, durante mais de um século, exigiam conexões físicas. “Seu desenho retangular e sua pegada mais natural, intuitiva, puderam ser experimentados pelos visitantes do Salão do Automóvel de Paris do ano passado, mas apenas em um simulador”, lembra o jornalista e cineasta francês, Stéphane Meunier, da prestigiada revista francesa “L’Automobile”. “Um protótipo também foi disponibilizado para pré-avaliação, há um ano e meio, no circuito de Motefontaine, mas, agora, avaliamos no dia a dia o mesmo sistema que vai equipar a próxima geração do 208, prevista para chegar à Europa em meados de 2027”, complementa Meunier.

Antes de seguirmos, é importante lembrar que o sofisticadíssimo Lexus RZ 550e, apenas para citar um modelo, já oferece tecnologia análoga, mas, como dissemos no início deste texto, o Hypersquare irá popularizá-la. Afinal, o Peugeot 208 é um compacto com volume anual de vendas próximo de 300 mil unidades, só no Velho Continente. A cidade de Mafra, no interior de Portugal, e as ruas de Monte Carlos onde acontece o GP de Mônaco da Fórmula 1 foram escolhidas para apresentação da versão de produção do novo volante que, a bem da verdade, exige um período de adaptação. “Leva um tempinho para o condutor se acostumar, mas as impressões foram tão positivas quanto as do primeiro teste, em maio de 2024”, confirma Steve Cropley, editor-chefe da “Autocar”, revista britânica que detém o título de mais antiga do mundo. “É uma experiência fascinante, ora convencional, ora revolucionária. Seus dedos se encaixam confortavelmente no retângulo com quatro círculos, cada um contendo comandos acionados por toque. A ideia é que você possa operar quase todas as funções do veículo sem precisar tirar as mãos do volante”.

O volante Hypersquare vira apenas 170 graus para cada lado, a partir do ponto central. Para o leitor entender melhor, significa que o motorista vai girá-lo menos de meia volta para a direita ou para a esquerda até o “batente” – no Peugeot 208 atual, são 520 graus até o batente físico. Essa relação ultradireta e quase quatro vezes mais “curta” é, inclusive, variável. “A adaptação à velocidade e a filtragem das imperfeições do piso são vantagens rapidamente percebidas. No uso cotidiano, é evidente o maior equilíbrio entre a boa manobrabilidade, em baixas velocidades, e a mais estabilidade, nas altas. Durante nosso contato, foi impossível simular uma manobra evasiva de emergência, até porque não avaliamos o novo volante em autoestradas, mas a tecnologia acumula 25 mil quilômetros de testes rodoviários reais”, pontua Stéphane Meunier, da “L’Automobile”.

 

Como funciona?

 

O volante Hypersquare tem como base um conjunto mecatrônico, em que um módulo registra os comandos do motorista, os interpreta e envia para o sistema de direção – para a cremalheira, que segue existindo. Assim como ocorre na aviação, existem redundâncias que garantem a máxima segurança e, em termos industriais, maior facilidade para produção de versões com volante à direita (mão inglesa) ou esquerda. A expectativa da Peugeot é que o Hypersquare vá reorientar as discussões sobre condução, sobre o prazer ao dirigir – um conceito bastante afetado pelas perspectivas de automação e pela realidade inexorável das funções semiautônomas de Nível 2+, que incluem assistente de condução em rodovias (pré-mapeadas), mudança de faixa automática, piloto automático para congestionamentos, sensor de estacionamento capaz de estacionar sozinho, detectores de pedestres e pontos cegos. A arquitetura interna também será reorientada, com ganhos de espaço e comodidade.

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“Com uma mistura de volante de Fórmula 1 e console de videogame, esta tecnologia poupa o condutor de maiores esforços, em que pese o fato de, ao olhar para trás durante as manobras, as mãos do motorista procurarem pelo grande aro que, neste caso, não existe mais. Em essência, a direção oferece uma relação que varia bastante entre uma relação (16:1) típica, acima de 80 km/h, que se torna até cinco vezes mais ‘rápida’ em baixas velocidades. Pelo que notamos entre nossos pares e pelo que apontam as pesquisas da própria Peugeot, a taxa de aceitação é altíssima”, destaca Steve Cropley, da “Autocar”. Ele lembra que a maior complexidade da Hypersquare implicará, inevitavelmente, em preços mais salgados. “Mas a área comercial da Peugeot está convencida de que este investimento será valorizado pelos clientes, seja pela praticidade ou pela agilidade”, diz Cropley.

Vale ressaltar que, quando chegar ao mercado equipando a próxima geração do 208, o volante Hypersquare será integrado ao novo i-Cockpit da Peugeot, que promete melhor acessibilidade e maior visibilidade – aqui, cabe citar que a tecnologia disponibilizada para avaliação foi embarcada num Peugeot 2008 atual. Os comandos circulares que ficam nos quatro cantos da peça retangular também terão sua ergonomia revalidada para o modelo de produção, já que controlarão o Start/Stop, a navegação dentro do i-Cockpit e a seleção de fonte do sistema de infotainment – há, ainda, duas alavancas de controle em cada lado, todas atrás do volante, para faróis, setas e a indefectível buzina.

“Não há dúvida de que o condutor terá que reaprender a usar este volante, nem de que o público jovem deve se adaptar mais rapidamente à novidade”, pondera Stéphane Meunier, da “L’Automobile”, que é avalizado pelo colega: “Leva um tempo para se acostumar com a completa ausência de vibração, mas comprovei, em apenas um ou dois quilômetros de condução, que dá para se adaptar rapidamente ao Hypersquare. Na verdade, depois de se acostumar, toda aquela rotação do volante de um carro normal parece um pouco boba”, finaliza Steve Cropley, da “Autocar”.

Agora, é torcer e esperar pela chegada desta tecnologia por aqui, no Brasil. Até lá, confira o vídeo oficial do Hypersquare: https://www.youtube.com/watch?v=yjeEkIBZMkE. Aguardemos!