Chery mostra bateria em estado sólido com alcance de 1.300 km e Calt amplia rede de troca de bateria em apenas 100 segundos

Módulo de bateria de estado sólido da Chery, com densidade de energia de 600 Wh/kg, tem capacidade de armazenamento em watts-hora por quilograma até duas vezes maior do que as baterias atuais, de íons de lítio; participação global de 10%, já em 2030, num mercado de R$ 183 bilhões – CRÉDITO: imagem gerada por IA, com licença para uso editorial

O brasileiro é vítima preferencial da desinformação e, quando se trata de temas automotivos, o Brasil é campo mais fértil do que a própria África para certos mitos, como o alcance limitado dos veículos elétricos (EVs), a curta vida útil das baterias, os riscos de incêndio e custos de reparo. Em resumo, quando se trata de defender as antigas montadoras, que seguem desovando modelos ultrapassados com motores a combustão interna por aqui, revelamos uma fidelidade canina. Mas a vida é uma marcha que segue, sempre, para frente e, do outro lado do mundo, os avanços da tecnologia seguem contrariando o negacionismo. Entre janeiro e setembro deste ano, a produção chinesa de baterias alcançou 1,1 GWh (energia para alimentar todas as residências de São José dos Campos, durante um mês inteiro), 44% mais de capacidade do que no mesmo período de 2024 e, só nos últimos 15 dias, a Chery revelou um novo módulo “ultrasseguro”, de estado sólido, com alcance de 1.300 quilômetros – nenhum modelo equipado com motor a combustão à venda, no mercado nacional, tem esta autonomia – sem necessidade de recarga, enquanto a Contemporary Amperex Technology (CATL), maior fornecedor mundial de baterias para EVs, concluiu a instalação de sua 700ª estação de troca (BSS), rumando firme para a meta de 1.000 novas estações, em 39 cidades chinesas, só em 2025.

 

“Apresentamos o protótipo de um módulo de bateria de estado sólido com densidade de energia de 600 Wh/kg, o que representa uma capacidade de armazenamento em watts-hora por quilograma até duas vezes maior do que as baterias atuais, de íons de lítio”, destacou o presidente-executivo (CEO) da Chery, Liu Yun, durante a edição deste ano da sua Conferência Global de Inovação, em Wuhu. Na prática, a tecnologia revelada pela marca pode até dobra a autonomia dos EVs, abrindo uma disputa com a conterrânea BYD e a própria CATL. “Nosso produto, que entra em produção no ano que vem e ganha volume comercial em 2027, ainda apresenta maior resistência ao superaquecimento – com menor probabilidade de pegar fogo – e danos, além de ter menor tempo de recarga e maior vida útil”, completou Yun.

 

Se o cronograma da Chery for cumprido, seus EVs serão os primeiros a chegarem nos concessionários com baterias de estado sólido de alta energia, redefinindo seu desempenho e tornando a “ansiedade” dos consumidores em relação ao alcance irrelevante, uma questão que será relegada à Psiquiatria, a partir dali. “Hoje, este tipo de pacote tem custo de produção 2,8 vezes superior aos de íon de lítio, principalmente devido ao uso de matéria primas mais caras e à baixa escala, mas empresas como a Sumitomo vêm aumentando a produção de cátodos para esta aplicação e, na Universidade chinesa de Tsinghua, o uso de eletrólitos de fluoropiliéter resultou numa densidade de 604 Wh/kg”, pontua o consultor da International Electric Association (IEMA), Christopher McFadden. “De qualquer forma, as baterias de estado sólido podem alcançar uma participação global de 10%, já em 2030, num mercado de US$ 34 bilhões – o equivalente a R$ 183 bilhões”, destaca McFadden.

 

Troca em 1min40s

Já a Calt reafirmou seu cronograma de expansão da rede de estações BSS, com a conclusão do 700º de 1.000 pontos agendados para este ano. Para quem não sabe do que se trata, nessas estações, a substituição completa do pacote de baterias de um EV é feita em apenas 100 segundos – ou 1min40s. O motorista deixa a unidade quase descarregada e sai de lá com outra, equivalente à sua (mesmo modelo e mesma capacidade), em um intervalo de tempo menor do que para encher o tanque de um modelo equipado com motor a combustão – o tempo máximo de substituição, garantido pelo serviço, é de dez minutinhos, e cada ponto pode fazer até 822 trocas diárias. Para 2026, está programada a instalação de mais 2.500 estações adicionais, na China, antes de o negócio ser expandido para a Europa – ao todo, a CATL terá 30 mil “postos” nos dois continentes. Hoje, o plano de assinatura para os clientes é de um centavo de yuan por quilômetro rodado – o equivalente a R$ 7,50, ou pouco mais do que o preço de um litro de gasolina, para cada 100 quilômetros rodados.

A CATL reafirmou seu cronograma de expansão da rede de estações BSS, com a conclusão do 700º de 1.000 pontos agendados para este ano – nessas estações, a substituição completa do pacote de baterias de um EV é feita em apenas 1min40s; no futuro, 30.000 estações poderão atender a 20 milhões de veículos – CRÉDITO: FOTO CATL/Divulgação com licença para uso editorial

 

Por enquanto, as estações servem proprietários de EVs de diversas marcas de cinco gigantes – quatro estatais – chinesas, equipados com três tipos de pacotes de baterias (A0, A e B): Changan (Changan, Deepal, Avatr e Kaicene, além de Ford e Mazda), GAC (Hyptec, Trumpchi, Aion e Hycan, além de Toyota e Honda), FAW (Hongqi, Bestune, Toyota e Volkswagen), Wuling e SAIC (IM, Roewe, MG, Rising e Maxus).

 

“A médio prazo, a CATL construirá 10.000 estações em conjunto com a Sinopec, a Nio e outros parceiros. Com a expansão do ecossistema de troca de baterias e com os esforços conjuntos de toda a sociedade, haverá 30.000 estações que poderão atender a 20 milhões de veículos. Estamos explorando ativamente oportunidades em mercados fora da China e nossas estações já se expandiram para Hong Kong e Macau, em 2025, o que nos permite adquirir experiência para uma futura expansão global, especialmente na Europa”, enumera o fundador e CEO da companhia, Rogin Zeng. “A tecnologia é o principal impulsionador do crescimento sustentável e quando falamos em agregar valor não devemos considerar apenas o preço de um produto ou serviço, mas o custo de todo um ciclo”, pondera.