O leitor que acompanha as novidades do segmento de novas energias sabe que é impossível decorar as mais de 120 marcas chinesas que produzem veículos elétricos (EVs) e híbridos plug-in. Além das dezenas de fabricantes, existem subsidiárias de gigantes automotivas que parecem geradas espontaneamente, e uma dessas submarcas é a Onvo, lançada há pouco mais de um ano e pertencente à NIO, que acaba de iniciar as vendas de seu novo L90, um e-SUV de grande porte com 5,14 metros de comprimento – um dos maiores, senão “o” maior de trás da Grande Muralha – e até sete assentos, capaz de rodar até 605 quilômetros sem necessidade de recarga das baterias. Trata-se de um grandalhão que supera, em todos – frise-se, todos – os quesitos, a trinca alemã formada por Mercedes-Benz EQE (a partir de R$ 600 mil), BMW iX3 (a partir de R$ 520 mil) e Audi Q6 e-tron (a partir de R$ 600 mil), mas com preços que chegam a ser três vezes menores, já que sua versão topo de linha, Ultra de sete lugares, parte de o equivalente a inacreditáveis R$ 233,5 mil (299.800 yuans). “É um ‘jumbo’ completamente diferente de tudo que os norte-americanos estão acostumados”, resume Frank Markus, da revista MotorTrend, referência em testes e na cobertura de lançamentos, nos Estados Unidos, há 76 anos.
O Onvo L90 é um e-SUV em sua essência, mas traz novidades importantíssimas, como o sistema de alta tensão de 900 volts e o pacote de baterias intercambiável. Como bom utilitário-esportivo, o lançamento chega ao mercado chinês em versões com tração traseira e potência de 456 cv (340 kW a 20.000 rpm) ou tração integral e potência combinada – são dois motores elétricos – de 590 cv (440 kW). A autonomia varia de 570 km (versão AWD) a 605 km e o tempo de recarga, partindo de 10% da capacidade até 80%, é de apenas 25 minutos. A motorização da versão com tração traseira é a mesma do NIO ET9, uma unidade bastante compacta que ocupa apenas 37 litros de espaço e pesa meros 79 quilos.
Em termos de performance, o L90, mesmo com seus 2.250 quilos, acelera de 0 a 100 km/h em 4,7 segundos, na versão AWD, contra 5,9 s do irmão com tração traseira, mas são os mimos e não o desempenho propriamente dito que ganham destaque neste “SUVão”. Trata-se da maior transformação pela qual esta classe já passou desde os lançamentos do Chevrolet Suburban Carryall, em 1935, e do Jeep Cherokee, de 1984. Vejamos!
Geladeira e áudio
Num grandalhão desta classe não pode faltar espaço para bagagem e, ao porta-malas de 430 litros, o lançamento da Onvo destaca o bagageiro dianteiro (foto) de 240 l – ou seja, são 670 l de capacidade volumétrica combinada e sem ultrapassar o limite da tampa traseira, algo inédito até agora. Dentro dele, os dois bancos dianteiros e as duas poltronas traseiras (da segunda fileira) da versão de seis lugares (há versões para sete ocupantes) contam com ajustes elétricos em até 12 vias – só os dois bancos da terceira fileira não dispõem deste recurso, mas vale destacar que a largura dos seus assentos, de 53,2 cm é praticamente idêntica à das poltronas da segunda fileira, que é de 53,5 cm. Não bastassem as acomodações de classe executiva, o L90 conta com uma geladeira de bordo para até 12 latinhas, que permanece operacional – ou seja, refrigerando – por uma semana, mesmo com o veículo parado.
O sistema de infotainment inclui um telão de teto 17,3 polegadas e resolução 3K – os leitores de maior “quilometragem” vão se lembrar do tempo em que o maior televisor à venda no Brasil era de 24 polegadas. A tela que fica no console frontal também é enorme, 17,2 pol, conta com a mesma resolução 3K e ainda há um terceiro visor embutido na parte de trás do console central. Em relação à sonorização, são 23 alto-falantes, surround Dolby Atmos 7.1 e potência escandalosa de mais de 2.000 watts. Para quem prefere uma pescaria silenciosa ao ambiente interno de boate, há uma almofada especialmente desenvolvida para esta finalidade, além de um compartimento debaixo do porta-malas para varas de pescar.
Para quem se liga e, principalmente, sabe decifrar a ficha técnica computacional dos novos EVs chineses, o L90 é equipado com processador Qualcomm Snapdragon 8295P, com 60 TOPS e IA. Sua configuração básica ainda traz 24 GB de memória RAM DDR4 e 256 GB para armazenamento, executando o sistema Coconut 2.0.0.
Dimensões e eficiência
Com 5,14 metros de comprimento, 1,99 m de largura e 1,78 m de altura, o lançamento da Onvo é apenas 6,4 cm menor e 5,7 cm mais baixo que o titânico GLS, da Mercedes-Benz. Sua largura, no entanto, é 4,2 cm superior e sua distância entreeixos, de 3,11 cm, basicamente idêntica à do “transatlântico” alemão. A maior vantagem do L90, mesmo comparado às versões híbridas 350d e 400d do GLS, é a eficiência. Enquanto o SUV da Mercedes-Benz declara 13,1 km/ (de diesel) como sua melhor marca, o consumo de eletricidade da versão AWD do chinesão – 15,4 kWh a cada 100 quilômetros rodados – equivale a incríveis 57,8 km/l (de gasolina pura, sem adição de álcool anidro). Já na versão com tração traseira, que tem consumo de energia de 14,5 kWh a cada 100 km rodados, a média sobe para inacreditáveis 61,3 km/l. E olhe que estamos falando de um e-SUV que acelera mais rápido, em qualquer configuração, do que ambas as variantes do GLS.
“É por causa de lançamentos como este que as marcas norte-americanas morrem de medo dos EVs chineses”, pondera Frank Markus, da “MotorTrend”. Realmente, não há como negar que as novas marcas chinesas estão anos-luz à frente dos antigos fabricantes ocidentais, em especial das montadoras europeias e norte-americanas, que parecem ter perdido o bonde da história. Mais avançados tecnologicamente, mais eficientes, melhores qualitativamente e incomparavelmente mais acessíveis, os lançamentos de novas energias que vêm de trás da Grande Muralha estão humilhando a porcariada que consumidores de alguns países, como o Brasil, ainda aceitam por falta de amor próprio ou mera ignorância.