Tecnologia cresce a uma velocidade espantosa e o Brasil vive impassível essa evolução

A velocidade que o mundo avança na substituição do carro a combustão pelo carro elétrico é muito maior do que a projetada por governos e indústria e parece que indústria, governo e o consumidor ainda não deram conta de que o setor automobilístico está vivendo uma revolução.

O mundo experimenta uma formidável mudança estrutural na mobilidade, silenciosa, limpa, mas que está causando um estardalhaço no velho sistema de produção.

No ano passado, enquanto a produção mundial de veículos automotores caiu 15%, a de veículos elétricos cresceu 43%.

Inventora do motor a combustão, a Alemanha foi o país da Europa que mais resistiu à tecnologia elétrica, mas acabou cedendo e a partir daí ampliou expressivamente a produção de carros elétricos.

A China iniciou o ano de 2021 com 4% da sua produção voltada ao carro elétrico e vai fechar o ano com 14%, considerando apenas o elétrico puro. Incluídos os híbridos, a participação dos veículos eletrificados é de 28% no país.

A GM já decretou o fim do carro a combustão em 2040.

Mas o consumidor brasileiro vai conseguir pagar um carro tão caro? Hoje, o elétrico mais barato no Brasil custa 150 mil reais, o dobro de um carro do mesmo porte a combustão.

No entanto, as perspectivas indicam que o aumento da escala de produção vai baratear o carro elétrico a ponto de custar o mesmo que um modelo a combustão. Na Europa ele já custa apenas 15% mais caro e a projeção para 2025 é que ele ficará mais barato do que o modelo semelhante a combustão, considerando inclusive as novas tecnologias aplicadas nos novos modelos.

O problema é que no Brasil não tem um plano de eletromobilidade, necessário para que a tecnologia seja implantada em massa. O carro elétrico paga imposto mais alto do que os modelos a combustão.

Enquanto o carro flex recolhe de 7% (motor 1.0) a 8% de IPI, o híbrido paga de 11% a 15%, dependendo da eficiência energética, e o elétrico puro de 14% a 18%, dependendo da eficiência energética e do peso do carro.

Mas a defasagem do Brasil na tecnologia não é somente em relação a Europa. O Brasil perde inclusive na América Latina para países mais pobres e menos populosos.

Enquanto no Brasil foram vendidos 801 carros elétricos puros em 2020, a Colômbia, com uma população que é 20% da brasileira, vendeu 1.314 unidades e a Costa Rica, com uma população de apenas cinco milhões de habitantes, vendeu 622. Em todos os casos são números ainda desprezíveis, mas mostram que esses países estão avançando na tecnologia e iniciam a jornada na frente do Brasil. A diferença é que Colômbia e Costa Rica têm um projeto de instalação da eletromobilidade.

Na COP26, a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática em Glasgow, Escócia, em novembro, oito montadoras e 500 cidades se comprometeram em eliminar os veículos comerciais e pesados com motor a combustão até 2040. São Paulo foi a única cidade da América do Sul a assinar o protocolo. Se não houver um esforço capitaneado pelos gestores públicos, um plano de mobilidade elétrica sob o manto do governo federal, com redução (ou eliminação) de impostos e outros incentivos, São Paulo não vai conseguir honrar seu compromisso e o Brasil vai – mais uma vez – perder o bonde da história.