– Concentrações urbanas exigem ar limpo: 6,7 bilhões dos pessoas estarão morando em centros urbanos em 2050
– No Brasil, 80% da população ocupa apenas 1% do território
– Migrando para uma empresa de tecnologia, Stellantis vê como a melhor mobilidade, a que oferece mais opções.

Arte: Neoenergia

A transição energética da indústria automobilística é tida como uma emergência global na busca de opções para o desenvolvimento de uma mobilidade sustentável.

A transição energética é a migração de matrizes energéticas poluentes, como combustíveis fósseis, para fontes de energia renováveis, como hidrelétrica, eólica, solar e biomassa. É a total preocupação com o meio ambiente.

Tecnicamente, a eficiência energética leva à exploração máxima da energia gerada, reduzindo (quando não eliminando) o desperdício e obtendo melhor rendimento.

O ideal seria que o mundo se livrasse dos combustíveis fosseis e que toda a energia necessária fosse gerada de forma limpa, mas o petróleo ainda tem vida longa num planeta onde 840 milhões de pessoas ainda não têm acesso à energia elétrica.

A necessidade de criar uma mobilidade menos poluente é prioridade num mundo em que aumentam as concentrações de pessoas em centros urbanos.

Em 1950 existiam apenas duas megacidades com mais de dez milhões de habitantes, Tóquio e Nova York. Hoje são 33 e o aumento da concentração é intenso; serão 43 metrópoles ou megalópoles em 2030.

A urbanização acelerada e a concentração da população exigem uma mobilidade cada vez mais limpa, não apenas no que se refere a emissão de poluente na atmosfera, mas em toda a cadeia, do chamado poço à roda, ou, mais ainda: do poço ao túmulo, o que inclui a destinação correta e reciclagem dos veículos e equipamentos, como as baterias que alimentam os veículos elétricos.

Há 70 anos, a população urbana era de 750 milhões de habitantes, ou 30% do total. Em 2008 metade da população (então 3,4 bilhões de pessoas) vivia em áreas urbanas. A concentração cresceu para 56% em 2020 e a busca pela vida nos centros urbanos continua aumentando. A Terra registrou em 15 de novembro de 2022 o nascimento do seu 8.000.000.000º habitante e quase todos eles querem viver amontoados. A previsão da Organização das Nações Unidas é que 6,7 bilhões dos habitantes do Planeta estarão morando em centros urbanos em 2050.

O Brasil, um dos maiores países do mundo em extensão territorial, concentra 80% da sua população em 1% do território, ou seja, tem uma população distribuída de forma irregular. Para ser mais exato, 160 milhões de brasileiros, ou 84,3% da população, estão concentrados em apenas 0,63% do território (Embrapa).

As regiões Sul, Sudeste e Nordeste, que representam 36% do território, reúnem juntas 88% da população, enquanto nas regiões Norte e Centro-Oeste, que ocupam 64% do espaço territorial, vivem apenas 12% da população.

Mudar o comportamento da migração interna seria uma solução, estabelecendo políticas públicas para manter o homem no campo ou em pequenas cidades do interior? O sucesso desse tipo de empreitada é pouco provável, porque a tendência do homem é pela vida em centros urbanos. Tanto que as chamadas cidades inteligentes, alternativa moderna para oferecer melhores condições de vida, estão calcadas na concentração da população e não na sua dispersão. As cidades inteligentes são planejadas de forma a oferecer muito espaço para a circulação das pessoas, a pé, de bicicleta e usando outros meios limpos e de menor impacto de transporte, mas com a proliferação de arranha-céus, ou seja, propõe uma vida de qualidade, mas não abre mão da concentração urbana.

No Brasil, há muito se fala em fixação do homem no campo, mas como impedir que as pessoas busquem alternativa de trabalho e de melhor qualidade de vida nos centros urbanos se nem sequer uma rudimentar reforma agrária fomos capazes de fazer?

A pandemia do coronavírus mudou hábitos que podem se perpetuar, pelo menos em parte, e impactar positivamente na redução da concentração urbana e na emissão de poluentes por veículos automotores, como o trabalho remoto e o ensino a distância. Mas ainda é pouco para mudar o panorama atual.

Números anteriores à pandemia do coronavírus revelam que 70% dos deslocamentos nas cidades tinham como motivação ida e volta ao trabalho e às escolas. Mesmo com a melhora significativa de deslocamento provocada pela redução do trânsito por causa dos novos comportamentos, o tempo que os moradores dos centros urbanos perdem no trânsito é muito além do recomendável.

“O ideal é que o cidadão use no máximo 15 minutos para chegar a qualquer lugar na sua cidade”, considera Gustavo Delgado, gerente de inovação da Stellantis, responsável pelos estudos sobre as tendências da mobilidade no Brasil e no mundo, com base nas quais a empresa está alicerçando as suas concepções para o futuro dos seus produtos.

Ele vê com otimismo os novos comportamentos do consumidor brasileiro, que intensificou o uso da mobilidade digital, passando a usar com mais frequência as opções de compras online.

Gustavo avalia que o melhor sistema de mobilidade é aquele que oferece mais opções. “O carro é relevante na mobilidade, claro, mas não é o único meio, nem mesmo o prioritário”, disse, avaliando que o mundo hoje é muito volátil, cria-se novos grupos de consumidores, abrem-se nichos de mercado para atender demandas que estavam amortecidas, como a diversidade e inclusão social.

“A volatilidade está apenas se iniciando”, acredita Gustavo. Um indicativo de que as mudanças no mundo corporativo são – e serão – cada vez mais intensas. Ele citou uma pesquisa que indica que 41% dos líderes empresariais esperam volatilidade constante nos próximos três anos. “O que eu estou falando aqui hoje pode não ser verdade no futuro. É preciso perceber as mudanças e se adaptar, ou, melhor ainda, fazer parte delas”, concluiu.

Como disse a gerente de Inovação da Stellantis, Fernanda Bandeira, “a mudança é a única constância nesses tempos incríveis que estamos vivendo”. Fernanda disse que conteúdo, dados e informação crescem num volume exponencial e portanto precisamos aprender a “pensar” exponencialmente para acompanhar essa evolução.

Ela avalia que é preciso fazer a intersecção da era industrial com a era digital e finaliza destacando a direção apontada pelo presidente mundial do grupo que representa, a Stellantis, Carlos Tavares:
“Estamos migrando para uma empresa de tecnologia da mobilidade. Mudou o modelo de negócio: temos que enxergar muito além do que simplesmente vender carros”