Plano de investimento da Brembo, de R$ 2,6 bilhões, prepara o terreno para introdução do sistema nas linhas de montagem, em 2025
O sistema antiblocante de freios (ABS) só se tornou obrigatório em todos os modelos vendidos no Brasil em janeiro de 2014, mas é uma tecnologia que remonta à primeira metade do século passado, e seu uso nos transportes ferroviário e aeroviário têm pelo menos 80 anos. O ABS representou uma verdadeira revolução em termos de segurança em 1987, quando a Mercedes-Benz passou a integrá-lo em todos os seus automóveis (o Classe S já oferecia o sistema desde 1978), mas a fabricante italiana Brembo promete uma nova transformação neste campo com o Sensify.
Trata-se de um sistema de freios totalmente elétrico e de alto desempenho, apresentado pela primeira vez no ano passado, e que “inicia uma nova era” a partir de 2025. “Somos um fornecedor associado a esportivos de última geração e estamos apresentando uma solução que irá democratizar nossa expertise com o que há de mais avançado em termos de frenagem independente nas quatro rodas”, promete o
diretor de operações (COO) da empresa, Dino Maggioni.
O Sensify foi apresentado nos Estados Unidos há 14 meses, equipando um Tesla Model 3 Performance, e na semana passada aconteceu uma nova rodada de testes em um campo de provas próximo de Tóquio, no Japão. “Estamos estabelecendo um novo padrão daqui por diante, que combina os materiais de fricção que já usamos em nossos discos e pinças com inteligência artificial (IA), algoritmos preditivos e gerenciamento de dados que controlam cargas digitalmente”, acrescentou o executivo.
Os freios ABS são antiblocantes, ou seja, evitam que as rodas travem durante as frenagens de emergência ou em piso escorregadio, mantendo o controle direcional do veículo. Sua geração mais avançada já dispõe de distribuidor de carga (EBD), otimizando a atuação do conjunto, mas se o leitor acha que o novo Sensity está apenas digitalizando aquilo que já existe, é bom conferir o vídeo deste link (
https://www.youtube.com/watch?v=yQE9eoHZmMM&t=50s). “Este é um sistema de frenagem que não usa fluido hidráulico, portanto ‘seco’ e totalmente elétrico, que pode ser implementado em compactos, sedãs médios, SUVs, comerciais leves e caminhões. Há também a versão híbrida que combina um sistema eletromecânico, aumentando a robustez do conjunto, em veículos pesados, e reduzindo os espaços de parada em superesporivos e até monopostos de corrida”, destaca Maggioni.
Em maio deste ano, a Brembo anunciou um plano de investimento de 500 milhões de euros (o equivalente a R$ 2,6 bilhões) para ampliar sua capacidade de produção na China, no México e na Polônia. A empresa, que ocupa a 16ª posição entre os 50 maiores fornecedores automotivos em nível mundial, estima lucro quase 12% maior que o de 2022, neste ano, o que cria um ambiente encorajador. “Nossa carteira de pedidos está lotada e nossas fábricas, hoje, operam com capacidade máxima. Depois que divulgamos os resultados do ano passado, nossas ações subiram 4% e isso, é claro, nos permite sermos mais corajosos”, avalia o presidente-executivo (CEO), Daniele Schillaci. Só entre janeiro e março, a receita da companhia chegou a quase um bilhão de euros (o equivalente a R$ 5 bilhões).
Micro ajustes de 0,180 s
De volta ao Sensify, a Brembo espera reduzir o tamanho dos atuadores e das unidades de processamento, nos próximos meses, antes de o novo sistema chegar às linhas de montagem. “Como se pode imaginar, esta tecnologia é especialmente voltada para veículos elétricos (EVs), tornando mais fácil não só sua integração, mas permitindo que cada marca adapte o ‘feeling’ de frenagem de seus EVs à sua personalidade. Um dos grandes desafios da virada de eletromobilidade é a preservação das identidades que cada fabricante construiu durante décadas e, com o Sensity, temos possibilidades que extrapolam o perfil desta ou daquela marca, permitindo uma ampla gama de personalização”, pontua o COO, Dino Maggioni. Pode parecer papo de vendedor, mas uma frenagem minimamente ajustada, fazendo com que cada roda
de um automóvel gire entre 5% e 7% mais lento do que o próprio “corpo” do veículo traz pelo menos quatro benefícios que, mais cedo ou mais tarde, vão se refletir na vida e no bolso do motorista.
“O primeiro ganho é de segurança, com maior estabilidade em situações críticas, já que o Sensify evita as perdas temporárias de aderência
inerentes aos micro ajustes – de 0,180 s – do ABS. O segundo diz respeito à durabilidade e confiabilidade do conjunto, porque sempre que um disco ou pinça superaquece, a pressão aplicada sobre esta unidade é reduzida, ao mesmo passo que é amplificada nas outras três rodas. O terceiro é a maior autonomia, com maior capacidade de regeneração e energia, e redução dos custos de manutenção, decorrente da gestão inteligente que as unidades de controle fazem dos calibradores, aplicando sempre uma força de frenagem uniforme e, com isso, reduzindo o desgaste nas pastilhas. E quarto o ganho ambiental proporcionado por um sistema totalmente eletrônico que reduz ou até elimina a necessidade de fluidos hidráulicos, reduzindo emissões – de partículas, inclusive – e o arrasto dos freios que um dos maiores vilões do
consumo de combustível”, enumera Maggioni.
A Brembo, estrategicamente, segura há mais um ano os dados comparativos do Sensify com o sistema antiblocante convencional. Espera-se redução nas distâncias de parada e gráficos que demonstrem menor ‘fading’ (que é a perda de potência por aplicação repetida ou superaquecimento) e maior controle direcional, principalmente nas frenagens em curva, bem como uma extensão nos intervalos de manutenção. Os ganhos, obviamente, serão maiores nos EVs em que a frenagem automática de emergência (AEB) é integrada às
mesmas estruturas de software e hardware. Infelizmente, o fornecedor não detalhou os impactos da nova tecnologia nos custos de produção das montadoras, mas seu lançamento comercial indica uma sinergia com a virada da eletromobilidade e o rearranjo industrial que já se opera na China, Europa e Estados Unidos.