Por sugestão de um amigo, vou contar, em pílulas, algumas lembranças dos meus tempos de repórter e de assessor de Imprensa, mas peço que ninguém confunda essas pílulas com as famosas pílulas do Dr. Ross, que ajudaram muita gente nos anos 40 e 50 e cuidar dos problemas estomacais e intestinais. Neste link você poderá ouvir o jingle que reinava nas rádios daqueles tempos: https://www.google.com.br/search?q=pilulas+de+vida+do+dr.+ross+jingle&sca

Vou começar por uma tarde, ainda em O Globo, em que fui entrevistar o presidente da Bolsa de Valores, cujo nome não lembro, mas lembro que o fato aconteceu em 1981. A entrevista foi marcada para às 16 horas. O escritório do presidente da Bolsa era um “desbunde”.

Todo em madeira escura, com iluminação indireta sobre a mesa e sobre a poltrona, super-confortável. Tudo muito lindo e aconchegante!

Aconchegante até demais! Quando ia começar a entrevista, o telefone do entrevistado tocou. Muito constrangido, ele pediu desculpas e disse que teria que atender àquela ligação em outra sala. Passaram-se uns 10 minutos e… nada! E eu, naquele ambiente, acabei dormindo.

Tempos depois o entrevistado me chama: “chicolelis! chicolelis!” me acordando, constrangido. Tinha passado das 17 horas. Pedi desculpas e ele me “consolou” dizendo que ao voltar da sua ligação, me encontrou dormindo e aproveitou para resolver problemas decorrentes da ligação.

Mas eu fiz a entrevista, a exemplo dos franceses “come il faut”, como deveria.

Ouvindo Julio Iglesias por 1.100 km

Em uma viagem que fiz, junto com colegas jornalistas, até Assunção, quando a Ford, organizada pelo “Seccão” (Luis Carlos Secco, gerente de Imprensa da marca na época, com quem aprendi muito na minha profissão) lançou seus modelos a álcool na capital Paraguaia. Eu voltei dirigindo uma Belina, versão van do Ford Corcel. Como me avisaram, o rádio não conseguia sintonizar nenhuma rádio por mais de 90% do percurso, comprei uma fita cassete (lembram o que é isso?) de Julio Iglesias, que no sábado (30) comemorou seus 80 anos. E viajei quase todos os 1.100 quilômetros que separam Assunção e Porto Alegre, escutando todas as 20 (acho que era esse o número) músicas cantadas pelo cantor que chegou a jogar no gol do Barcelona, mas abandonou a profissão de jogador após um acidente. Você pode ler detalhes desta viagem visitando publicações anteriores neste site que você visita regularmente, que publica minha coluna Histórias & Estórias.

Esperto, ele ficou para trás

Nessa pílula eu fui coadjuvante. Fazíamos uma viagem de avaliação de três modelos da fábrica e, em determinado trecho, coube a um dos engenheiros, o carro motor mais fraco do grupo. Tinha modelos 3.0L, 2.0L, diesel e a ele, em determinado trecho, coube um “mísero” 1.0L.
Lá na frente o “piloto” do 3.0L “cobrava”, via rádio, do colega o atraso que causava o pequeno carro com seu motor igualmente pequeno. De nada adiantava, claro, a capacidade de vencer, com rapidez, as curvas e mais curvas da estrada. Ele ficava mesmo bem lá para trás.
Quando o grupo parou para almoçar, ocorreu a ele sair na frente de todo mundo para não ficar tão atrasado. Mas a ideia dele foi “machiavéllica”. Depois de rodar alguns poucos quilômetros, escondeu o carrinho atrás de um paiol na estrada. Quando viu a “caravana” passar, esperou alguns minutos e saiu do esconderijo, passando a cobrar pelo rádio: “cadê vocês? Como que não conseguiram me alcançar. São muito lerdos mesmo. Eu com um motorzinho e você não me alcançam”.
Demorou para que alguém percebesse a “malandragem”.

“Vou ao Zoológico”

Sabem aqueles dias que você está sem a mínima disposição para trabalhar, sem inspiração? Mas, por sorte, quando não há nada para fazer na data. Pois bem, por duas ou três vezes, esse dia se apresentou a mim. Eu pensava, pensava e… nada. Não vinha qualquer luz! Nem o telefone tocava. Parecia que o mundo parara.

Daí, eu falava para a secretária do departamento: Patrícia, eu vou até o Zoológico (o maior da América Latina) e não devo voltar (o horário de saída era às 17 horas e isso não acontecia antes das 15 horas).
E lá ia eu para o Zoológico, que ficava a poucos quilômetros de distância da fábrica. Era uma época em que os animais ficavam confinados em minúsculas jaulas, diferente, muito diferente dos dias atuais, em que eles estão alojados em grandes espaços, projetados especialmente para cada espécie.

Meu animal preferido era o Lobo Guará que, mal sabia eu, viraria nota de R$ 200. E como fedia a jaula do bicho, mas ele andava, sem parar, de um lado para o outro e isso me trazia uma serenidade muito grande, ainda que ainda que não cheirando lá muito bem.

No dia em que deixei a empresa, Patrícia perguntou se podia fazer uma pergunta. Claro! Disse eu.
– Quando falava que ia ao Zoológico, você ia mesmo para lá?

Sem nenhuma razão para mentir, respondi que sim. Aliás, se você mora em São Paulo ou em uma cidade onde tem zoológico e sentir que o dia não passa (e se for possível), “fuja” para lá e escolha um animal para ficar observando. Faz bem para a alma.

Os fotógrafos se deram mal

Nesses dois episódios eu também não participei diretamente. Em um deles, apenas estava na “caravana” de teste de longa duração por estradas do Brasil (eram muitas, com milhares de quilômetros percorridos com até 6 carros, mais os veículos de apoio, transportando peças para eventual necessidade, combustível e óleo.

Isso aconteceu no dia em que, saindo do Campo de Provas, fomos avisados da presença de um fotógrafo “instalado” lá na saída da estrada, escondido atrás da moita. Com isso, o roteiro foi modificado e saímos pelo meio do mato, enquanto o profissional ficou por lá, sob um sol escaldante. Mas não tanto quanto os dias de hoje.

Em outro caso, o meu amigo Silvio Porto, que não vejo há muito tempo, trepou em uma árvore (eu já plantei duas, escrevi três livros e tenho dois filhos, que me deram cinco netos), e ficou esperando que um determinado modelo, ainda inédito por aqui, passasse por lá, para ele conseguir fazer um “furo”. E, como aconteceu comigo na sala do presidente da Bolsa, o Sílvio dormiu. Mas ele não estava em uma confortável poltrona, sim empoleirado em um galho. E, caiu, sofrendo alguns ferimentos. Leves, felizmente!

“Furo”, há muitos anos passados, as fábricas promoviam viagens de testes quilométricas com seus modelos a serem lançados em um ano. Repórteres e fotógrafos viviam em busca desses segredos, coisas que já não acontecem mais. Hoje, muito tempo antes de surgirem novos modelos no mercado, já temos fotos e detalhes de todos os que virão para o Brasil. Até meados da década de 90, isso ainda não acontecia.

Então, são muitas as histórias envolvendo muitos personagens. Muitas, mesmo!!!!

 

Por Chico Lelis