Analistas estimam queda nas vendas de 6% da marca de Elon Musk

A Tesla Motors, do todo-poderoso Elon Musk, se tornou uma espécie de referência para as montadoras de todo o mundo, revolucionando o negócio com uma aposta arriscada para mais de uma década atrás: os EVs. Dos pouco mais de 30 mil modelos vendidos, em 2014, a marca ultrapassou 1,7 milhão de unidades, no ano passado. Mas nem tudo são flores na vida de Musk e Wall Street, que é a porta-voz do mercado financeiro norte-americano e uma espécie de bússola para as bolsas mundo afora, já projeta um ponto de inflexão para a Tesla, com queda real nas vendas. “Acreditamos que as preocupações com o volume comercial e os lucros podem inibir os investidores e desvalorizar as ações da marca”, avalia o analista do Deutsche Bank, Emmanuel Rosner. Em entrevista à “Bloomberg”, Rosner chamou atenção para o fato de as ações da montadora terem caído 30%, só no primeiro trimestre deste ano, o pior índice entre as 500 maiores empresas (S&P 500) listadas em Wall Street.

Apenas para o leitor ter uma ideia, em 2021, a Tesla chegou a valer mais de um trilhão de dólares – US$ 1,06 trilhão ou equivalente a R$ 5,36 trilhões! – e, hoje, sua capitalização de mercado é de pouco mais que a metade disso, US$ 547,5 bilhão (o equivalente a R$ 2,76 trilhões ou mais do que Porsche, Stellantis e todas suas marcas, Mercedes-Benz, BYD, Ferrari, BMW e Volkswagen, juntas). Para além destes números, que ainda são muito expressivos diante dos concorrentes tradicionais, há uma conjuntura desfavorável, com queda na demanda por EVs e altas taxas de juros.

A Tesla enfrentou contratempos na Alemanha, com paralisações na fábrica que fica no entorno de Berlim, reconfigurou sua linha de montagem californiana, perdeu a liderança na China para a BYD, reduzindo a produção atrás da Grande Muralha, e ainda não divulgou dados comerciais de seu mais recente lançamento, da picape Cybertruck. Analistas da “Bloomberg” estimam uma queda nas vendas da montadora de 6%, em relação ao último trimestre de 2023, enquanto Elon Musk tenta convencer acionistas e investidores de que a marca está passando por um hiato “entre duas grandes ondas de crescimento”, prometendo que a ampliação do portfólio com um novo EV, significativamente mais acessível, levantará a curva no gráfico.

O problema é que o próprio Musk estaria “jogando contra o patrimônio”. Bom, pelo menos é isso que sugere o mais recente estudo do Grupo Caliber, consultoria especializada na gestão de marcas e reputação corporativa. “Nossas pesquisas mostram que 83% dos norte-americanos conectam a figura de Musk diretamente à Tesla e não há dúvidas de que suas declarações públicas e controvérsias políticas, cada vez mais associadas à extrema direita, estão pesando sobre a marca”, pontua o presidente-executivo (CEO) da Caliber, Shahar Silbershatz.

Visão negativa

A Agência Reuters conversou com especialistas em marketing, pesquisas e sobre o setor automotivo para saber como eles enxergam a Tesla. “Estimamos um crescimento de 15% nas vendas de EVs, nos EUA, neste primeiro trimestre e, deste bolo, as comercializações da marca não crescerão mais do que 3%. Em outras palavras, se há uma desaceleração neste segmento ela não é, de todo, dos veículos elétricos, mas da Tesla”, pontua a consultora Stephanie Valdez Streaty, da Cox Automotive. Ao que parece, da mesma forma como a personalidade descomunal Elon Musk beneficiou sua marca, com uma visão ambientalista que reimaginou os automóveis, o contrário ocorre quando ele se mete em política. Uma pesquisa sobre consumo da CivicScience aponta que 42% dos entrevistados têm uma imagem negativa de Musk – há exatos dois anos, eram 34% por cento.

No mesmo sentido, a consultoria Brand Finance descobriu que a reputação da Tesla caiu, em 2023, nos Estados Unidos, Holanda, França, Reino Unido e Austrália – na Alemanha e na China, esta percepção se manteve inalterada. “Um número modesto, mas crescente, de compradores de EVs está cada vez mais desanimado com o comportamento de Musk e seu envolvimento com questões políticas. E o pior é que, agora, estes mesmos consumidores encontram alternativas mais acessíveis no mercado do que um Tesla”, destaca o presidente da AutoPacific, Ed Kim. “Há quem não queira dar um centavo para ele”.

De qualquer maneira, a Tesla segue com o maior índice de fidelização nas pesquisas do S&P Mobility, segmentado às principais marcas de automóveis, com um índice de retenção dos clientes de 68% – ou seja, proprietários de EVs da marca que os trocam por outros modelos da Tesla. “Pensei em mudar de marca, mas comprei um Model Y, no ano passado, por causa da infraestrutura de recarga dedicada da Tesla, que é muito confiável”, ponderou a ativista climática Kat Beyer, do Estado norte-americano de Wisconsin. “Não é fácil escolher um veículo associado a uma pessoa como Musk, mas prefiro suportá-lo a voltar para um modelo equipado com motor a combustão”, disse Kat.