Cronotícias: a fusão de crônica com notícia. Episódio de hoje, TIGGO 8. Por José Carlos Pontes

 

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 Jorge estacionou o carro na garagem e desceu feliz depois de um dia produtivo com vendas acima da média. Abriu a porta e encontrou a esposa limpando a mesa. Beijou-a carinhosamente perguntou:

– E as crianças?

– Estão na casa da tia, mas devem estar chegando.

– E o meu pai?

A esposa envolveu uma das mãos no pano que estava segurando, olhou preocupadamente para o marido e falou:

– Ele parece não estar bem.

Jorge olhou à sua volta como se o procurasse.

– O que aconteceu?

– Hoje pala manhã ele foi na padaria e na volta, deixou as compras na mesa e foi para o quarto. Não comeu nada. Está lá até agora.

Rapidamente o filho foi até a porta do quarto do pai e bateu levemente.

– Papai!

Depois de um tempo em silêncio e várias batidas, Jorge abriu a porta vagarosamente e viu o pai sentado na cama, mãos entrelaçadas e olhando para o chão. Imediatamente veio à mente a imagem do velho dias depois da viuvez. Ficara assim por semanas seguidas.

O filho puxou a cadeira, sentou-se à sua frente, segurou as suas mãos e perguntou:

– O que está acontecendo, papai?

O velho continuou olhando para o chão/ enquanto Jorge esperava pacientemente alguma explicação. O pai então falou quase sussurrando:

– O homem é muito mau.

O filho se preparou, pois sabia dos sentimentos do pai e de como ele se entristecia com as injustiças.

– O que foi desta vez?

O velho levantou os olhos tristes e começou a falar:

– Meu filho, quando eu vim para o Brasil era uma criança e meu pai sofreu muito para que tivéssemos uma vida digna e honesta. Não foi fácil. Durante muitos anos vivi muito triste porque não éramos aceitos. Diziam que tudo que vinha da China era ruim. Então a gente era ruim também. Nós viemos da China. Tudo que não prestava era chinês.

O filho esperou uma pequena pausa para interromper o pai:

– Hoje isso tudo acabou, papai.

– Acabou nada, meu filho. Estamos em 2021 e ainda existe esta maldade. Hoje de manhã, lá na padaria, falaram que as vacinas chinesas não prestam, que os produtos chineses não prestam. Ainda falam que tudo da China não presta. Isso dói, meu filho. Nós prestamos, nós somos bons.

Jorge se acomodou melhor na cadeira e perguntou para o pai:

– O senhor pode me escutar por alguns minutos?

O velho maneou a cabeça afirmativamente e o filho começou a falar:

– Pois bem, papai, hoje na concessionária foi um dia maravilhoso. Vendemos carro como nunca. Acho que batemos o nosso recorde. Sabe por que? Porque os carros chineses são um sucesso. Eu já falei para o senhor sobre o novo Tiggo 8?  Pois bem, está todo mundo indo lá para conhecer o carro. Pai, ele é lindo, todos admiram. Ele é completo, cheio de equipamentos, ganha todos os testes com os concorrentes. O senhor precisa conhecer. É um SUV de sete lugares, próprio para família grande, tem motor 1.6 de 187 cavalos, transmissão automatizada e dupla embreagem.

O velho esboçou um sorriso e o filho continuou:

– O senhor sabe que eu aprendi a gostar de carro com o senhor, que é o melhor mecânico da cidade. O senhor sabe o que estou falando. O Tiggo 8 é um carro de tecnologia chinesa, da Chery, que agora é sócia da Caoa. É um carro lindo, desenhado na Europa. Tem banco de couro e teto solar elétrico panorâmico, multimídia com tela de oito polegadas, câmera de ré, monitoramento 360 graus. Papai, tem tudo para o conforto de quem anda nele.

– Não falta nada nesse carro, meu filho

– Na verdade, pai, acho que ele podia ter aquele sistema de frenagem de automática (que o carro breca sozinho numa emergência). Mas dos concorrentes, só o Territory tem isso.

Já com um sorriso, o velho perguntou:

– Queria conhecer esse carro de perto. Desse jeito que você está falando ele vai fazer sucesso.

Entusiasmado com o interesse do velho, Jorge passou a elogiar o carro:

– Pai, ele é líder no segmento. E está sendo muito elogiado pela sua tecnologia e também pelo trabalho pós-venda da montadora.

– Essa tecnologia é daquele centro que você já me falou? É produzido aqui, né?

– Isso mesmo papai, o centro de tecnologia Caoa em Anápolis, em Goiás. Ele é produzido no Brasil, mas com a tecnologia chinesa. Tem o nosso DNA.

Neste momento Jorge percebeu que uma lágrima escorreu no rosto do velho. Ele o abraçou e prometeu:

– Dia desses o senhor vai andar no Tiggo 8.

-Fala mais, meu filho. E o consumo?

– Ele faz 12 quilômetros com um litro na estrada e chega a quase dez na cidade. É um consumo muito bom.

O homem pensou em tudo o que o filho disse sobre o carro, respirou fundo e voltou-se carinhosamente ao jovem:

– Mas meu filho, um carrão desses, não é pro meu bico… É coisa de gente rica.

Jorge riu e completou:

– Pois é, meu pai, isso é o que todo mundo pensa, mas o Tiggo 8 está fazendo sucesso justamente porque está bem posicionado no mercado, com um ótimo preço. O modelo 2022 custa R$ 174 mil.

– E isso não é caro, meu filho?

– É o preço de um carro dessa categoria, na mesma faixa dos concorrentes, o Ford Territory, o Jeep Compass e o Volkswagen Tiguan. E no Tiggo 8 não tem opcionais, todos os equipamentos são de série.

– Mas você falou modelo 2022? Já?

– Sim, já é linha 2022. Quem comprar agora vai ficar com o carro novo por mais tempo… rsrs. E ainda vai perder menos na hora da revenda.

– Fale mais, filho. Ele é completo, tem todos esses equipamentos modernos?

Jorge se viu diante de um cliente na concessionária e desandou a falar do produto:

– Completo. Vai anotando aí: ele tem freio de estacionamento eletrônico, seis airbags, controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, tampa com acionamento elétrico, persiana interna elétrica, rebatimento elétrico dos retrovisores, banco do motorista com ajuste elétrico, faróis full LED, lanternas em LED, rodas de liga leve aro 18 polegadas, faróis de neblina em LED e alavanca de câmbio elétrica. Ele é completo, papai. E a linha 2022 traz ainda ajuste elétrico do banco de passageiro e retrovisor antiofuscante.

Com a ajuda do filho, o velho se levantou, deu um abraço em Jorge e com a voz embargada falou:

– Você é um grande filho. Sem você eu acho que morreria de tristeza.

Jorge pegou na mão do velho e o convidou a tomar uma taça de vinho:

Ele deu um sorriso e ainda sem conseguir controlar a emoção, respondeu:

– OK, mas quero saber tudo do Tiggo 8. E você me prometeu que vou andar nele. Preciso fazer isto antes de ir embora para sempre.

Aí foi Jorge que não conseguiu segurar a lágrima. Abraçou o pai e foram para a sala.

Naquela noite todos dormiram felizes e com a esperança de que o preconceito – o pior dos sentimentos que o homem pode cultivar – um dia vai acabar.