Cupê de altíssimo luxo traz dois motores elétricos de 584 cv e tem autonomia de até 640 km

A Rolls-Royce acaba de reescrever sua história, com o lançamento do novíssimo Spectre, um cupê executivo de 5,47 metros de comprimento que, 120 anos depois, cumpre a promessa que seu co-fundador, Charles Rolls, fez na virada do século passado, quando profetizou que os motores elétricos eram uma alternativa mais limpa e silenciosa que os a combustão interna. O co-fundador da mais emblemática marca de automóveis do mundo ainda não sabia, mas a virada da eletromobilidade reservava outras vantagens, como a redução drástica do consumo, que nunca foi – digamos assim – o maior atributo de seus luxuosíssimos modelos. Afinal, estamos falando de um gigante com potência de 584 cv que, na aferição por equivalência e “abastecido” com eletricidade, faria média de 45,4 km/l se usasse combustível fóssil. Melhor ainda, o novo Rolls-Royce Spectre tem alcance que varia de 335 a 640 quilômetros, sem necessidade de recarga das baterias – o fabricante divulga média de 530 km – que, com o uso de um carregador rápido de 195 kW, “enche” até 80% do “tanque” em apenas 34 minutos ou garante 100 quilômetros extra de autonomia, para quem tem pressa, em nove minutinhos.

Nada mal para um grandalhão com carroceria em alumínio e massa de quase três toneladas (2.890 kg), mas que acelera de 0 a 100 km/h em 4,5 segundos. “O novo Spectre se encaixa perfeitamente no estilo de vida dos nossos clientes, que têm, em média, setes carros em suas garagens para escolherem o mais conveniente para cada ocasião, e que rodam 5.100 quilômetros anuais com seu Rolls-Royce”, conta o presidente-executivo (CEO) da marca, Torsten Müller-Ötvös – não tente pronunciar este nome, porque o leitor pode fraturar a língua em dois ou três pontos. “Submetemos os modelos pré-série a testes de mais de 2,5 milhões de quilômetros que, na prática, representam 400 anos de uso de um Rolls-Royce. Não se trata apenas de um momento histórico para a companhia, mas para a eletromobilidade, já que certificamos nossa tecnologia para um padrão elevadíssimo, que vai equipar todos nossos produtos, até 2030”, acrescentou o executivo.

O novíssimo Spectre é também o mais aerodinâmico de todos os modelos da marca, com coeficiente de arrasto (Cx) de 0,25, portanto superior ao do seu antecessor – o Phantom Coupé. Ele também é o primeiro cupê da Rolls-Royce equipado com enormes rodas aro 23 polegadas e uma verdadeira constelação de 4.795 “estrelas” que iluminam as portas Starlight. Na parte dinâmica, o pacote de bateria integrado à estrutura proporciona uma rigidez torcional 30% superior à de qualquer outro de seus automóveis. Este tipo de construção também garante ganhos em isolamento acústico, afinal, o pacote de 700 quilos proporciona maior isolamento acústico e filtra o ruído de deslocamento. Soma a isso a suspensão inteligente (Planar), que permite até mesmo o desacoplamento das barras estabilizadoras, reduzindo o balanço entre os eixos – o sistema reagrupa os componentes, quando identifica a iminência de uma curva por meio de 18 sensores que monitoram os parâmetros de direção, frenagem e aceleração.

Como o leitor pode ver, é sofisticação para xeque árabe nenhum botar defeito. Mas pelo “módico” preço de US$ 422.750 (o equivalente a R$ 2 milhões) tem mais: a arquitetura digital Spirit, que gerencia todas a funções do cupê, é integrada ao aplicativo Whispers da marca que permite aos clientes interagirem remotamente com o veículo e até receberem informações em tempo real de curadores de luxo. É que, para muito além das Harley-Davidson, a Rolls-Royce permite possibilidade quase infinitas de personalização – não que um automóvel com bancos de alfaiataria, com direito a lapelas, demande personalização.

Torque de 91,7 mkgf

No lugar dos históricos “V8tões”, o novo Spectre usa dois motores elétricos (SSMs). O dianteiro produz 190 kW de potência e 37,2 mkgf de torque instantâneo, enquanto o traseiro gera 360 kW e 72,4 mkgf, respectivamente. Seguindo uma orientação histórica, a Rolls-Royce não divulga a velocidade máxima do novo cupê executivo, que conta com centralizador ativo de faixa (ALC) e controle de cruzeiro adaptativo (ACC), e oferta um torque combinado de 91,7 mkgf, isso tudo bastando o condutor triscar do acelerador. A recarga completa das baterias, em uma tomada de energia (AC) de 22 kW, leva cinco horas e trinta minutos – o pacote tem capacidade líquida de 102 kWh. Outro destaque é a função de recuperação de frenagem configurável, por meio de um botão – “B” – no seletor de direção. Ao ativar o ‘modo de freio’, a recuperação de frenagem é potencializada, permitindo a chamada condução de pedal único e até mesmo que o carro pare completamente – a configuração padrão na partida é de baixa recuperação.

“Este também é o Rolls-Royce mais conectado da história, com três vezes mais sinais emissor-receptor do que qualquer modelo anterior. Nossos engenheiros o descrevem como um automóvel de ‘ultra-alta definição’, devido à velocidade e precisão de suas respostas às condições da estrada, dos comandos do motorista e do clima”, sublinha Müller-Ötvös. “Por meio do software de ‘Inteligência Descentralizada’, os dados são processados mais próximos de sua origem, em vez de serem tratados em sua totalidade por uma única unidade de processamento”.

Mais do que uma montadora icônica, a Rolls-Royce Holdings é um excelente negócio, com um leque que vai dos setores naval e aeroespacial, passando pela defesa, energia, sistemas de propulsão e, obviamente, automóveis que, só no primeiro semestre deste ano, teve lucro operacional de 660 milhões de libras (o equivalente a R$ 4 bilhões). “É um resultado que reflete nosso foco na otimização comercial e na eficiência de custos, que compensou o impacto da inflação e mitigou as pressões da cadeia de suprimentos”, pontua o executivo. Hoje, a companhia ocupa a 66ª posição entre as maiores empresas do setor industrial, de todo o mundo, com um valor estimado em US$ 21 bilhões (o equivalente a R$ 99,4 bilhões) e uma capitalização de mercado que cresceu 121%, só nos primeiros seis meses deste ano – é, inclusive, o maior grupo britânico neste quesito.