Fastback elétrico parte de R$ 156,5 mil e é maior e mais bem equipado do que um Corolla
O leitor mais antenado já percebeu que novas marcas chinesas vêm pipocando, a grande maioria delas focadas nos EVs. Para quem não sabe, hoje existem mais de 80 fabricantes de automóveis atrás da Grande Muralha, nada mal para um país cuja indústria automotiva era 180 vezes menor que a brasileira, há menos de 40 anos – nunca é demais lembrar que, em 1985, o Brasil produziu quase um milhão de carros de passeio e comerciais leves, enquanto a produção chinesa não passou de 5.200 veículos. A profusão de montadoras, na China, não faz mais do que espelhar aquele que é, hoje, o maior mercado do mundo – quase duas vezes maior que o norte-americano – e onde o estado é o maior indutor da economia. Portanto, não é de se espantar que no país em que o comunismo gera mais desenvolvimento que o neoliberalismo capitalista – aquele, que só conhecemos pelo viés da colônia – são as marcas estatais que dão as cartas. A Deepal Automobile é, neste cenário, um bom exemplo e seu novo sedã elétrico, o L07, a prova cabal do quanto nós andamos para trás nas últimas décadas, aqui em Pindorama.
O lançamento foi apresentado para o público no final de agosto, durante o Salão do Automóvel de Chengdu, e suas vendas começam na próxima semana. Trata-se do primeiro modelo de médio porte a ofertar o Qiankun ADS SE, da Huawei, um sistema de direção inteligente que não deixa nada a desejar ao AutoPilot, da Tesla, e que está ao alcance de quem desembolsar 200 mil yuans (o equivalente a R$ 156,5 mil) pelo L07. Por falar em porte, o lançamento da Deepal tem 4,87 metros de comprimento (24 cm maior que um Toyota Corolla), 1,89 m de largura (20 cm a mais que o Toyota) e 1,48 m de altura (3 cm a mais que o Corolla, com uma distância entreeixos de 2,90 m – nesta medida, a vantagem sobre o sedã nacional é de expressivos 20 cm.
Note, caro leitor, que uma marca da qual você nunca ouviu falar produz um EV com perfil ‘fastback’ maior por dentro e por fora que um Corolla, cujo preço básico é 5% menor que o da versão XEi 2.0 do Toyota, equipada com motor a combustão interna – portanto, uma tecnologia que remonta ao século 19. Mas sigamos!
Até 705 km de alcance
O Deepal L07 chega em duas versões: Standard Range, equipada com um motor elétrico de 258 cv (com torque instantâneo de 32,6 mkgf), capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 5,9 s e a atingir os 180 km/h de velocidade máxima; e Extended Range, com motor elétrico de 218 cv e mesmo torque, porém tempo de aceleração, 6,9 s, mais lento. As diferenças se devem ao fato de a versão Standard Range, mais potente, trazer pacote de baterias de 58,1 kWh que garante alcance de 515 quilômetros, contra 705 km na versão Extended Range – que tem pacote de baterias maior, com 79,9 kWh de capacidade. Comparado à versão EXi 2.0 do Corolla brasileiro, cuja autonomia varia de 430 a 745 km, o L07 tem um custo por quilômetro rodado que chega a ser sete vezes menor.
Na ponta do lápis, o consumo de eletricidade do L07 equivale a 62,8 km/l, enquanto o Corolla XEi 2.0 oscila entre 8,6 km/l e 14,9 km/l, dependendo do ciclo e do combustível (gasolina ou etanol). Traduzindo e tomando por base a média nacional para o preço do litro de gasolina (R$ 6,09) , divulgado pela Petrobras para o período de 1º a 7 de setembro, o quilômetro rodado com o lançamento da Deepal sai por R$ 0,09 (nove centavos), contra R$ 0,49 (quarenta e nove centavos) do Toyota. E se o leitor pensou na versão Altis Hybrid 1.8 do Corolla, é bom reconsiderar, porque o custo do quilômetro rodado com ele jamais será inferior a R$ 0,33 (trinta e três centavos) e isso de acordo com a própria Toyota.
Em termos de espaço interno, conforto e conteúdo, não há como comparar o novo ‘fastback’ com o sedã predileto dos tiozões brasileiros, mas o mais inusitado vem agora: é que o preço digno do mais capitalista dos mercados esconde, na verdade, um produto estatal. A Deepal é uma submarca da Changan, de propriedade do governo chinês, e o L07, um automóvel pensado para o proletariado de lá. Vendo este tipo de comunismo, dá até inveja dos “camaradas” de lá…