Nos EUA, comparativo de carros médios mostra vantagem econômica da gasolina contra a eletricidade

Ford F-150 Lightning: na Flórida, opção pela versão 100% elétrica da picape pode representar uma economia de até US$ 1.158 anuais (o equivalente a R$ 5.770), comparada à sua irmã movida a gasolina; diante da diferença de preços de ambas no mercado norte-americano, mais o bônus tributário de até US$ 7.500 dado pelo governo federal dos EUA, daria para amortizar o “investimento” na picape verde em cinco anos
Pela primeira vez, em 18 meses, os norte-americanos gastaram menos para abastecer seus automóveis equipados com motor a combustão interna, do que para recarregar as baterias dos EVs (veículos elétricos). O estudo do Anderson Economic Group (AEG), consultoria em economia, análise de mercado e políticas públicas, traz o recorte do quarto trimestre de 2022 e se, frise-se, fundamenta nos custos de combustíveis e energia elétrica nos Estados Unidos. De qualquer forma, desde o primeiro trimestre de 2022, o mais elementar custo que todo motorista tem que calcular, na ponta do lápis, pesou em favor dos modelos convencionais. “Os aumentos nos preços da gasolina fizeram os EVs parecerem uma pechincha, nos últimos três anos”, avalia o analista Patrick Anderson. “Mas as recentes altas nos preços da eletricidade equilibraram as coisas e, pelo menos entre outubro e dezembro do ano passado, os donos de automóveis comuns economizaram um pouco, na verdade US$ 0,31 (trinta centavos de dólar, o equivalente a R$ 1,62) para cada 160 quilômetros rodados”.
É uma notícia que, pelo que podemos imaginar, vai fazer muita gente que nega a virada da eletromobilidade saltar de alegria, bater no peito e soltar o grito de “eu não disse, que isso era modismo?!?” da garganta. Mas é bom segurar a emoção, porque a vantagem dos veículos convencionais se resumiu, aos modelos médios – categoria que, nos EUA, equivale aos nossos sedãs grandes, de porte igual ou superior ao do Toyota Corolla. “Este é o único segmento em que abastecer com gasolina, na bomba, sai mais em conta do que usar um carregador doméstico ou uma estação em pontos de recarga”, destaca Anderson. Na prática, um brasileiro que mora no Estado norte-americano de Michigan, por exemplo, e roda mil quilômetros mensais economizou R$ 10,15.
Já no segmento de luxo, que inclui marcas de prestígio e os grandes SUVs, os donos de EVs, principalmente os de última geração, seguiram com gastos menores, mesmo que a vantagem tenha diminuído um pouco, de US$ 11,20 para US$ 7,56 (de o equivalente a uma economia de quase R$ 60, a cada 160 quilômetros rodados, para R$ 38). Ou seja, se aquele mesmo brasileiro do parágrafo anterior tivesse um “SEV” ao invés de um SUV tradicional, no final daqueles mesmos mil quilômetros teria economizado R$ 240 ou cerca de 20 vezes mais do que abastecendo com gasolina.
“Na natureza, nada se cria…”
O imortal Antoine-Laurente de Lavoisier, que viveu no século 18 e é considerado o “Pai da Química Moderna”, é autor de uma máxima que todas as pessoas com escolarização primária devem se lembrar: “Na natureza, nada se cria e nada se perde, tudo se transforma”. Bom, se levarmos em conta que enquanto um EV converte cerca de 77% da eletricidade de sua bateria em energia mecânica, para as rodas, os motores a combustão conseguem converter apenas de 12% a 30% da energia química da gasolina em força motriz, não há surpresa no fato reportado pela AEG, até porque ele é um recorte. “Veja bem: se você mora em Massachusetts e possui um Corolla Hybrid, vai gastar em média US$ 864 anuais, só com combustível, enquanto seu seu vizinho que tem um Nissan Leaf SV, 100% elétrico, terá um acréscimo de US$ 978 anuais, na conta de energia”, pontua o diretor de testes da CR, Jake Fisher.
Ele, no entanto, chama atenção para outro fato: “O problema é que poucos estados norte-americanos têm gasolina mais barata e eletricidade mais cara do que Massachusets”. Fisher ainda chama atenção para outro dado importante naquilo que, no Brasil, chamamos de ‘Inflação do Carro’, que é o custo de manutenção. “Os EVs ainda custam mais caro que os modelos tradicionais, mas eles demandam e demandarão menos manutenção e ainda temos que falar dos incentivos fiscais, que vêm premiando a emissão zero”, avalia o especialista. “Não tenho dúvidas de que, com uma versão híbrida, grande parte dos motoristas já estariam plenamente atendidos, no que tange à redução no consumo, mas há uma conta para ser feita a longo prazo e, neste caso, um Modelo S, da Tesla, podem representar uma economia de até US$ 8.000 (o equivalente a R$ 42 mil) em relação a um BMW 330i, pelo menos para quem mora na Flórida”.
Na terra da Disney, onde o Mickey se encontra com o Pateta, a opção pela versão Lightning da grandalhona F-150, 100% elétrica, pode representar uma economia de até US$ 1.158 anuais (o equivalente a R$ 5.770), comparada à sua irmã movida a gasolina, só com combustível. Se tomarmos a diferença de preços de ambas as caminhonetes no mercado norte-americano, mais o bônus tributário de até US$ 7.500 dado pelo governo federal dos EUA, daria para amortizar o “investimento” na picape verde em cinco anos – o que, no Brasil, levaria duas gerações de uma família.
Como se pode ver, as aparências enganam…