– Delfim Netto critica a carga tributária e propõe isenção no consumo de baixa renda. Mas é contra a taxação das grandes fortunas
– O cidadão sonega porque o imposto é de tal ordem injusta que ele prefere correr o risco
– O desenvolvimento é a harmonia entre o que se produz (que é um problema técnico) e o que se distribui, que é um problema político
– O imposto no Brasil não é só alto, é injusto, pois a arrecadação não é devolvida à sociedade em serviços.
– Dinheiro não falta. O problema do governo é a ineficiência
Sobre a indústria automobilística, como já tinha dito na primeira parte desta entrevista, publicada em fevereiro, ele acha que o alto preço do carro no Brasil é resultado do oligopólio: “O Brasil tem a economia mais oligopolizada do mundo. Não há competição, não há um processo competitivo como em quase todas as economias do mundo” (veja Preço alto do carro é resultado de oligopólio).
– Leia (e veja no vídeo abaixo) a segunda parte da entrevista do ex-ministro à Agência Autoinforme
O economista e ex-ministro Delfim Netto disse em entrevista à Agência Autoinforme que o imposto no Brasil – não apenas para o automóvel, mas para os produtos em geral – não é só alto, é injusto, pois a arrecadação não é devolvida à sociedade em serviços.
Para ele, não falta dinheiro, falta administração: “O problema do governo é a ineficiência”. E propõe que o governo isente o consumo da população de baia renda e aumente os impostos do consumo sofisticado, No entanto, Delfim é contra a taxação das grandes fortunas: “Isso é uma tolice”.
Questionado, o ex ministro justificou assim o alto índice de sonegação no Brasil:
“O cidadão sonega porque o imposto é de tal ordem injusta que ele prefere correr o risco.”
Sobre a indústria automobilística, como já tinha dito na primeira parte desta entrevista, publicada em fevereiro, ele acha que o alto preço do carro no Brasil é resultado do oligopólio: “O Brasil tem a economia mais oligopolizada do mundo Não há competição, Não há um processo competitivo como em quase todas as economias do mundo” (veja Preço alto do carro é resultado de oligopólio – primeira parte da entrevista com Delfim Netto).
Autoinforme: O senhor acha razoável o imposto pago pelo carro hoje no Brasil?
Delfim Netto: Na minha opinião isso não teria importância se os serviços devolvidos com os recursos dos impostos fossem à altura do que é cobrado; os serviços devolvidos são ruins.
Autoinforme: E por que isso acontece? Pela precariedade do País?
Delfim Netto: Não, isso acontece por causa da ineficiência do governo, o problema do Brasil é um problema de administração. Todo mundo grita por educação, saúde, reclama do desperdício promovido pelo corporativismo e a incapacidade do governo de administrá-lo. Recebe-se muito, desperdiça-se muito e não se presta serviço. Quem paga o imposto na média? Alguém não paga: o sonegador. Nós estamos carregando aquilo que o sonegador não paga. É evidente que quando diminui a sonegação, você pode distribuir o imposto melhor. Agora eu acho que as pessoas sonegam (no Brasil como em todo o mundo), cada vez menos. Cada vez mais os mecanismos de controle são muito mais eficientes; o tesouro encontrou formas eficientes de impedir a sonegação. É claro que reduzir a sonegação seria muito interessante. Mas por que frequentemente o sujeito sonega? Porque o imposto é de tal ordem injusto que ele prefere correr o risco.
Autoinforme: A taxação das grandes fortunas no Brasil não seria uma boa medida para a distribuição de renda?
Delfim Netto: Esse é o tipo da enganação produzida por quem não tem a menor idéia do que se trata, em nenhum lugar do mundo a taxação das grandes fortunas deu certo. Quem tentou, abandonou porque é a coisa mais ineficiente do mundo, é uma grande tolice.
Autoinforme: Mas na França e na Inglaterra elas são taxadas
Delfim Netto: Coitadinhas da França e da Inglaterra. A França fez e não deu certo, os que fizeram estão voltando atrás. Quanto mais ignorante o indivíduo em matéria de finanças públicas, mais ele é entusiasta em relação a taxação das grandes fortunas. O que precisa é um sistema tributário justo. No Brasil o imposto não é só alto, ele é injusto. Há formas muito mais eficientes e é nisso que nós temos que insistir.
Autoinforme: E o que seria, professor?
Delfim Netto: Na verdade você tem que mudar, você tem que tributar o consumo, isentar o consumo baixo, tributar o consumo sofisticado e tributar o capital.
Autoinforme: Professor Delfim Netto, qual seria a alternativa para a retomada do crescimento da economia?
Delfim Netto: Aumento da produtividade média do trabalho. É preciso dotar cada trabalhador de educação e saúde, prosperar nos bens de produção, cada vez mais numerosos, ou seja, fazer o indivíduo acumular capital. O que é o capital? O capital é o conjunto de estradas, usinas hidrelétricas, portos. O que é isso? É o trabalho passado, trabalho vivo, o patrimônio congelado forma de uma estrada. O que é uma estrada? É o trabalho de milhares de sujeitos que naquele instante era trabalho vivo e se transformou em trabalho morto, que é a estrada, mas para a estrada funcionar tem que ter o trabalho vivo em cima. Quanto melhor a estrada, o trabalho vivo é mais eficiente, gasta menos pneu, gasta menos gasolina, ou seja, o desenvolvimento econômico depende estritamente de você entregar para cada trabalhador uma quantidade maior de capital. O que faz aumentar a produtividade: um trabalhador com uma enxada cultiva um hectare, com um arado cultiva três, com um trator constrói tudo. Qual é a mudança? É que o cara que usa a enxada não pode ser o mesmo sujeito que usa o trator. É ele + saúde + educação, ou seja, essas coisas têm que caminharem juntas. O desenvolvimento é a harmonia entre o que se produz (que é um problema técnico) e o que se distribui, que é um problema político.
O desenvolvimento é a harmonia entre o que se produz (que é um problema técnico) e o que se distribui, que é um problema político.
Joel Leite