Os geoglifos, o meteoro e a cidade mais seca do mundo
Trajeto: San Pedro de Atacama (CH) – Iquique (CH)
Terreno: asfalto
Temperatura: 0°C a 27°C
Altitude: 2.408 a 12 metros
Do altiplano ao litoral, dos 4 mil metros ao nível do mar, das temperaturas negativas aos 27 graus, um dia por uma estrada monótona e cheia de atrações
Quilagua é considerada a cidade mais seca do mundo. Quase nunca chove aqui. Dona Maria, sentada em um banco na frente de um restaurante fechado, nunca viu uma gota cair sobre a cidade onde nasceu 66 anos atrás. Outra dona Maria, 82 anos, que esperava a chegada do filho na varanda, pega mais leve: “Chove uma ou duas vezes por ano.” Leda Velasquez, 70 anos, foi irônica, sem querer. “Choveu agorinha. Faz uns quatro meses”.
A despeito da secura, o vilarejo é um oásis. De verdade. Uma mancha verde cortada por um rio, cercada de deserto por todos os lados e recheada de árvores em um pedaço do planeta onde árvore não é mato. Acontece que o providencial rio foi poluído pelas mineradoras e não presta para muita coisa – nem para beber, nem para tomar banho, nem para cozinhar, nem para plantar. Ele
tricidade só duas horas por dia. Á água também é racionada.
A cidadezinha escondida na beira da Ruta 16 é um dos atrativos do caminho entre Calama, a cidade média mais perto de San Pedro do Atacama, de onde saímos hoje, e Iquique, nosso destino no 13º dia da jornada entre o Atlântico e o Pacífico. É deserto dos dois lados. Deserto seco. Zero árvores. Quatro filas a perder de vista de torres de transmissão de energia elétrica. Por centenas de quilômetros. Chega a parecer que estamos rodando sobre uma esteira e não saímos do lugar. Passam caminhões grandes carregados de material de construção e combustível passam balançando o carro.
Antes dessa reta infinita começar, ainda antes de entrarmos em Calama, passamos na Ruta 5, por um campo fotovoltaico e por uma infinidade de torres eólicas. Geração de energia alternativa. É após uma saída à esquerda, em direção a Iquique, que o divertido marasmo visual da Ruta 16 começa. Mas não se chateie. É tudo muito bonito e, por se tratar de uma viagem on the road, na qual é possível parar onde bem entender, tem um bocado de atrações, como a anunciada pela placa Zona Geoglifos.
Com uma franzida de olhos, é possível ver desenhos que parecem feitos pro crianças nas encostas das montanhas que ladeiam a estrada. São manifestações pré-hispânicas feitas, acredita-se, entre 600 e 1400. Tem figuras humanas, de animais e geométricas. Vale parar com cuidado no acostamento, se aproximar dos desenhos e brincar de identificar os desenhos.
Mais adiante, depois de mais umas dezenas de quilômetros de delicioso marasmo visual – acalma a mente, apura os sentidos – está a tal Quilagua, onde papo vai, papo vem, soubemos que atrás do cemitério tem uma enorme cratera cavada por um meteorito. A bordo dos três WR-V fomos à caça da atração mais desconhecida do pedaço. O buraco tem uns 200 metros de diâmetro, é perfeitamente redondo. Um cone invertido cheio de pedras retorcidas e de textura própria. Deu vontade, mas ninguém foi louco a ponto de descer com o carro lá dentro.
De volta à estrada, seguimos relevo abaixo. Ontem estávamos a mais de 4.000 metros, nos Geiseres del Tatio. Dormimos a 4.800 metros, em San Pedro do Atacama. E vamos para Iquique, cidade costeira, nível do mar. A temperatura disparou: das negativas para 27 graus. Mas na chegada à Iquique, pela primeira vez em toda a viagem, não vimos o céu azul. Na descida final, nublou geral. Escureceu. O sol sumiu. Já estava escuro quando avistamos Iquique da estrada alta na encosta da montanha que cerca a cidade, onde dormiremos esta noite.
Veja como foi o primeiro dia da viagem
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Fotos: Érico Hiller