Pesquisa da McKinsey & Co avaliou 39 recursos de segurança, condução autônoma e infoentretenimento 

Anos-luz à frente dos brasileiros, os consumidores norte-americanos, alemães e chineses já consideram a conectividade veicular como fator determinante para a escolha de um zero-quilômetro. Isso é o que aponta o mais recente estudo da McKinsey & Company, maior e mais antiga das “Três Grandes” consultorias estratégicas e de gestão globais, que detalhamos para o leitor. “Nosso estudo ouviu 1.600 proprietários de EVs nos principais mercados automotivos do mundo, que são China, Estados Unidos e Alemanha, respectivamente, e submeteu 39 recursos de segurança, condução autônoma e infoentretenimento que operam em ambiente de rede para sua avaliação”, explica o sócio da empresa, analista-chefe de tecnologia e inteligência artificial (IA), Ben Ellencweig. “Apuramos que 60% destes clientes mudariam de marca para obter melhor conectividade, mas o mais impressionante é que, num ambiente de pesquisa apenas com donos de modelos convencionais, equipados com motor a combustão, este índice chegou a 38%. É um resultado que traz novos desafios e oportunidades para as montadoras”, pondera o executivo.

O relatório da McKinsey & Co, concluído há menos de um mês, muda completamente o conceito de fidelidade à marca, traçando um novo perfil para os próximos anos e para a virada da eletromobilidade. Apenas 17% dos pesquisados se disseram satisfeitos com os recursos de conectividade de que dispõem, hoje, e quase a metade deles “não compraria um 0 km que não dispusesse do Apple CarPlay ou do Android Auto”. No mesmo sentido, 85% dos ouvidos prefere o CarPlay e o Android Auto aos sistemas originais das montadoras e 30% não abrem mão da conexão com seus assistentes pessoais virtuais.

Até mesmo no recorte que ouviu apenas donos de veículos tradicionais, com motores térmicos, 47% deles esperam melhores soluções de conectividade. “É realmente surpreendente que, mesmo em relação às marcas de luxo, ninguém tenha enxergado isso: que a oferta de melhores soluções e maior velocidade em termos de conectividade é decisiva para fidelizar um consumidor ou perdê-lo para os concorrentes que vêm de trás da Grande Muralha, já que as marcas chinesas estão estabelecendo novos padrões neste campo”, pontua Ellencweig.

A verdade é que, para além do negacionismo tupiniquim e do nosso ‘retrocesso-ostentação’, os resultados do estudo revelam que, no além-mar, as pessoas têm mente aberta e já estão migrando das marcas tradicionais para “newcomers”, que vendem automóveis e oferecem serviços mais conectados. “Os consumidores norte-americanos, alemães e, principalmente, chineses amadureceram muito rápido – em oposição aos brasileiros, que vêm se infantilizando. Eles estão abertos a novas experiências, querem adquirir novos pacotes, preferem opções agrupadas ao invés de recursos avulsos e serviços de assinatura aos pagamentos únicos”, lista Ellencweig, confirmando a tendência apontada pelos próprios fabricantes de que a receita com assinaturas será importantíssima para o negócio – a Stellantis, por exemplo, acaba de criar um nova subsidiária, a Mobilinsights, para gerir 20 bilhões de euros (o equivalente a R$ 107 bilhões) anuais que virão da gestão de dados.

Quase R$ 4 trilhões!

Outra consultoria global, a CapGemini, estima que o setor automotivo pode adicionar US$ 800 bilhões (o equivalente a quase R$ 4 trilhões), por ano, às suas receitas só com a monetização de dados. Apenas para o leitor ter uma ideia, isso representa quase 1/3 do volume atual de negócios de toda esta indústria. “A Stellantis é um dos grupos ocidentais mais atentos à conectividade”, avalia o analista sênior Tilman Dumrese, do LGT Bank. “O faturamento anual da companhia ronda os 180 bilhões de euros, o que deve crescer até 2030. Por isso, estamos falando de serviços de software que podem representar uma fatia de 10% do bolo. É um pedaço pequeno, mas que irá crescer”, prevê Dumrese.

De volta à pesquisa da McKinsey & Co, o resultado obtido contrariou a “sabedoria popular” de pelo menos duas montadoras: A BMW que, recentemente, tentou convencer seus clientes a pagarem pelo aquecimento dos bancos; e a General Motors, que deixou de ofertar espelhamento para smartphones (CarPlay, da Apple, e Android Auto) em seus EVs. “Em termos gerais, os pesquisados disseram não gostar das centrais de infoentretenimento nativas – originais. Por outro lado, eles querem experimentar os novos recursos pagos, mas sabendo que podem cancelar sua assinatura depois dos primeiros meses, se não gostarem. Mas o principal e quase unânime é que eles esperam que seus smartphones sejam totalmente compatíveis com um 0 km e que uma eventual incompatibilidade é ‘fator para não comprar o modelo’ pelo qual se interessou”, frisa o analista-chefe de tecnologia e inteligência artificial (IA) da consultoria, Ben Ellencweig.