Por Chico Lelis

O escambo surgiu na pré-história, durante o período neolítico, há cerca de 10 mil anos passados. Como não existia a moeda, os povos da época trocavam mercadorias. No Brasil, ele foi usado entre 1.500 e 1.580, quando os índios trocavam pau-brasil por quinquilharias, como espelhos, perfumaria e aguardente.

Não que a GM do Brasil já existisse naquela época. Claro que não, mas no início dos anos 70, no século passado, um jovem e destemido advogado, José Carlos Pinheiro Neto, recém saído das Arcadas (Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco, SP) recebeu de seu chefe, Mustafá Rheda (um dos mais brilhantes advogados na área tributária nesta terra descoberta por Cabral) a missão de cobrar a dívida que um dos concessionários Chevrolet tinha com a fábrica.

E lá se foi o jovem Pinheiro Neto – que encerrou sua carreira na fábrica como vice-presidente – de encontro ao inadimplente no interior do Brasil, distante dos grandes centros.

Depois das apresentações formais, Pinheiro Neto iniciou as tratativas para o acerto de contas. Mas o concessionário não dispunha de nenhum valor para quitar sua dívida com a GM. Nenhum imóvel ou qualquer outro tipo de bem. Nada, nem mesmo um veículo, que a GM pudesse compensar seu prejuizo.

Conversa vai, conversa vem, ele mencionou um pequeno rebanho formado por uma raça de gado que nada apresentava de especial, mas que pagava grande parte da dívida.

O jovem advogado não titubeou e praticou o escambo, trocando os veículos que o concessionário retirara da fábrica e já vendera todos, pelo rebanho que ele ainda tinha, como único bem.

Ao voltar para São Paulo, apesar de surpresa, a diretoria, então presidida por James F. Waters Jr, depois de algumas indecisões e muita discussão, aceitou a ação criativa de Pinheiro Neto, cuja carreira deslanchou na companhia. Além de se aposentar na condição de vice-presidente da GM, ele também foi presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores em  uma época área da indústria automobilística.