Com consumo de eletricidade equivalente a 77,5 km/l, novo compacto da Wuling pode ganhar a marca Chevrolet e atravessar a Grande Muralha da China
Hoje, o brasileiro que tem R$ 70 mil na conta bancária tem pouquíssimas opções para a compra de zero-quilômetro. Na verdade, as escolhas se resumem ao paupérrimo Mobi (a partir de R$ 64 mil), da Fiat, e ao franciscano Kwid, da Renault (a partir de R$ 69 mil). São valores aviltantes, diante da pobreza, da insegurança e da tecnologia ultrapassada de ambos os modelos – aliás, são preços tão aviltantes que as vendas da dupla andam em baixa. Mas existe uma luz no fim do túnel e, nela, brilha uma estrela amarelinha. Esta estrela reluz sobre compactos muito mais modernos e em conta, maiores e, o melhor, até sete vezes mais econômicos que o ‘duo’ nacional, tudo isso por menos de o equivalente a R$ 45 mil (59.800 yuans). Estamos falando do novíssimo Wuling Bingo, que acaba de estrear na China para brigar pela liderança entre os EVs, no maior mercado do mundo!
Com estilo diferentão e 3,95 metros de comprimento, o Bingo é quase 30 cm maior que o Kwid. Mais largo (10 cm) e alto (11 cm) que o Renault, o EV chinês também leva ampla vantagem em espaço interno, com uma distância entre-eixos quase 15 cm superior. Seu porta-malas de 310 litros, capacidade volumétrica que vai a 790 l com o encosto traseiro rebatido, completa a cartela de um modelo que, se não faz frente aos do médios-compactos da Honda e da Toyota, atende perfeitamente todas as necessidades de um casal com duas crianças – e cabe sublinhar que, comparado ao Yaris XL 1.5, o lançamento sai por menos da metade do preço.
A grande vantagem do Wuling Bingo em relação a Kwid, Mobi e Yaris, além do City hatchback, está na motorização 100% elétrica, que representa a emancipação de seu feliz proprietário ao posto de combustíveis. A unidade de 50 kW, equivalente a 68 cv, não é um portento em termos de potência, mas seu torque instantâneo de 15,2 mkgf é igual ao do médico-compacto da Honda, cujo propulsor 1,5 litro 16V desenvolve 126 cv. Na prática, o EV chinês acelera mais rápido que qualquer modelo do quarteto nacional e, no trânsito das grandes cidades, é isso que importa. Mas o Bingo deixa todo mundo para trás no consumo.
R$ 45 por mês
Suas baterias de íon de lítio (LFT) têm capacidade de 31,9 kWh e autonomia de 333 quilômetros, sem necessidade de recarregamento. Por falar nisso, a recarga completa do pacote leva intermináveis nove horas e meia, numa tomada de energia convencional, mas com uma estação rápida (doméstica, mesmo) dá para alcançar 80% de carga, em apenas 35 minutos. Na ponta do lápis, o novo EV faz o equivalente a 77,5 km/l, o que significa um custo por quilômetro rodado sete vezes menor que o do Kwid. Apenas para o leitor ter uma ideia, se o infeliz proprietário do subcompacto da Renault gasta R$ 300 por mês, para seus deslocamentos, a despesa cairia para algo em torno de R$ 45, com o Bingo – a economia anual seria de mais de R$ 3.000.
Por dentro, o novo EV traz dois níveis de acabamento e conteúdo. A versão de entrada é bem espartana, mas, a partir dos modelos intermediários, há duas telas que agrupam o quadro de instrumentos e as funções de infotainment, com direito a reconhecimento de voz e outros mimos – a maior delas tem 10,2 polegadas. Tanto os faróis, quantos a lanternas traseiras, são em luzes diodos (LEDs) e, completíssimo, o Wuling Bingo sai por R$ 54.855, o que pode ser considerado um verdadeiro achado, diante dos valores indecentes que Renault e Fiat praticam no Brasil para a dupla formada por Kwid e Mobi, respectivamente.
Neste primeiro momento, o lançamento do Bingo é exclusivo para o mercado chinês, mas há planos de exportação para mercados asiáticos e europeus. Por aqui, a esperança é que a General Motors possa aplicar a marca Chevrolet no EV e importá-lo, no futuro. Especular sobre preços seria um exercício de futurologia, mas, pelo menos tecnicamente, não existem empecilhos neste sentido. A Wuling faz parte da SGMW Automobile, joint venture que compõe junto com a estatal chinesa SAIC e a própria GM. Olhando assim, dá para sonhar com o primeiro popular “brasileiro” 100% elétrico…