Supercompacta, a BV100 tem 1,5 cm de cada lado, 5 mm de espessura, potência de 100 microwatts e capacidade diária de 8,64 J
A startup chinesa Beijing Betavolt abalou as estruturas do setor automotivo, no final de janeiro, com a apresentação de sua nova bateria nuclear automotiva, denominada BV100, que fornece dez vezes mais energia e alcança 50 anos de duração, sem necessidade de recarga nem manutenção. A novidade promete embarcar nos automóveis a mesma tecnologia dos geradores termoelétricos de radioisótopos (RTG), que produzem eletricidade por meio do efeito ‘seebeck’, usando termopares para converter o calor liberado pela decomposição de material radioativo. Trata-se do mesmíssimo princípio já usado nos conjuntos e geradores que fornecem energia para satélites e sondas espaciais, como a da missão Cassini, lançada em outubro de 1997 e que operou durante quase 20 anos, pousando um módulo na lua Titã e passando por entre os anéis internos de Saturno, antes de entrar na atmosfera do planeta e ser destruída.
“Apresentamos a primeira bateria do mundo que miniaturiza a energia atômica. Trata-se de um produto que pode atender a demandas energéticas de longa duração em vários cenários, desde o aeroespacial, passando por robôs, drones, microprocessadores, equipamentos de medicina avançada e provedores de inteligência artificial (IA)”, destaca o presidente-executivo (CEO) da Betavolt, Zhang Wei. Estamos falando de um insumo que faria com que um smartphone jamais necessitasse de recarga e que um drone, que hoje voa por 15, 20 minutos, operasse indeterminadamente.
A BV100 é muito compacta, um quadradinho com 1,5 cm em cada lado e apenas 5 mm de espessura – a bateria pode ser usada em série ou paralelo. Sua potência é de 100 microwatts, com voltagem de 3 V, e uma capacidade de 8,64 joules diários e 3.153 J anuais – para o ano que vem, a Betavolt planeja lançar uma versão com 1 W de potência. Produzida em camadas, a bateria mitiga riscos de incêndio ou explosão e demonstra bastante resiliência ao operar em uma faixa de temperaturas que vai de 60 graus Celsius negativos (-160° C) a 120 graus, portanto de um frio polar a um calor infernal.
Então, quer dizer que os EVs serão equipados com baterias nucleares, no futuro?
Custo e radioatividade
“É recomendável irmos com calma, porque, neste momento, a BV100 apresentada é apenas um protótipo e, mesmo sabendo o quão rápida e eficiente é a Betavolt, não há nenhuma informação sobre o preço deste insumo. A partir dos detalhes divulgados pelo próprio fabricante, sabemos que as baterias nucleares são mais leves e compactas que as de íon de lítio, extensivamente usadas nos dias de hoje”, pondera o diretor de conteúdo do portal “Engeneering”, James Anderton. “Outro aspecto interessante é o ciclo de vida de cinco décadas, bem como uma perspectiva de reciclagem bastante simples, em que bastaria passá-las de um EV usado para um novo, criando uma nova cadeia”, acrescenta.
Em termos de sustentabilidade, as baterias de energia atômica são ecologicamente corretas, já que, após o período de decaimento, o isótopo radioativo de níquel-63 (Ni-63) se transforma em um isótopo estável de cobre. A Betavolt também frisa que não há emissão externa de radiação e que, ao contrário dos pacotes atuais, a bateria nuclear é uma fonte de energia física e, não, eletroquímica. Por isso, ela pode armazenar 3.300 megawatts-hora em apenas um grama. Até aí tudo bem e pode funcionar, mas a que custo?
Ao que parece, depois de ter conquistado uma posição quase hegemônica no fornecimento de baterias de íon de lítio, a China mira, agora, baterias nucleares com a ambição de alcançar, no médio e longo prazos, uma espécie de monopólio da eletricidade. “É uma inovação que, na prática, corta este ‘cordão umbilical’ tecnológico”, pontua Anderton.