Comparamos o novo chinesinho, que é 35% mais barato, ao Toyota RAV 4 e ele vence o campeão mundial de vendas em, praticamente, tudo!
Quem tem “média quilometragem”, na faixa acima dos 40 anos, e principalmente quem já rodou em estradas de terra sabe que os SUVs de hoje não têm absolutamente nada a ver com os utilitários-esportivos do passado. Os tempos eram outros e, para receber a chancela de um autêntico jipão, o veículo tinha que ter estrutura de caminhonete e capacitação para uso fora de estrada. De modo que, para os puristas, ainda hoje é difícil de engolir e até mesmo de acreditar que um bibelô como o Fiat Pulse é empurrado goela abaixo do consumidor por mais de R$ 130 mil – e, pior, que o cliente assume um financiamento “ad aeternum” para adquirir um bem que, daqui a quatro anos, vai valer 30% daquilo que ele já terá desembolsado. Fato é que, em um mundo onde o Nissan Kicks é vendido como SUV, há um novo paradigma. Ou seja, da mesma forma que a sucessão do Chevrolet Blazer pelo Tracker, entre 2011 e 2013, consolidou uma nova orientação de mercado, o avanço do novo Atto 3, da BYD Auto, no Japão e Europa marca a virada da eletromobilidade numa categoria que já é chamada de “SEV”.
Vamos comparar o Atto 3 ao SUV compacto mais vendido em nível global, que é o Toyota RAV4 – nesta semana, foi divulgado o balanço de 2022 e o Toyotinha vendeu mais de 870 mil unidades em todos os continentes, mesmo com a queda de quase 14%. Começando pelo preço, o RAV4 SX Connect Hybrid não sai por menos de aviltantes R$ 323 mil, no Brasil, enquanto o Atto 3 tem preço sugerido de 38 mil euros (o equivalente a R$ 210 mil), na União Europeia. Portanto lá, onde o poder aquisitivo é até cinco vezes maior do que o nosso, o “SEV” chinês custa 35% menos. Some a isso o consumo declarado de 17,1 km/l para o híbrido japonês, enquanto o Atto 3 apresenta um consumo de – eletricidade – 188 Wh/km, equivalente a impressionantes 62,5 km/, e tem-se que o chinesinho também é 3,5 vezes mais econômico.
Como se trata de uma questão matemática, é preciso ser um verdadeiro alienado para não entender que, de cara, estamos falando de novas referências tanto em relação ao preço de aquisição (35% mais barato), quanto à despesa mais elementar (consumo 3,5 vezes menor) em um veículo automotor. E o leitor deve imaginar o tamanho do esforço de engenharia necessário para qualquer fabricante se nivelar a este novo paradigma – bem como o investimento bilionário para viabilizar esse avanço. Já em termos visuais, nos limitaremos a respeitar o gosto individual de cada um, reconhecendo, no entanto, que apesar de não ostentar a modernidade do design escandinavo, nem o refinamento do design italiano, o lançamento da BYD traz desenho limpo, equilibrado e atual.
Menor potência, mas melhor performance
Em termos de performance, o RAV 4 leva vantagem em potência, já que combina um motor a combustão a outro, elétrico, para fornecer 222 cv, contra 150 kW do Atto 3, que equivalem a 204 cv. Aqui, a unidade 100% elétrica do chinesinho inverte a desvantagem na forma de um torque superior (e instantâneo), de 31,6 mkgf contra 27,9 mkgf do Toyota. O resultado prático dessa tecnologia são acelerações mais rápidas: 0 a 100 km/h em 7,3 segundos, contra 8,1 s do RAV4. Portanto e lembrando que a matemática é uma ciência exata, resta inconteste que o Atto 3 é mais eficiente, já que, apesar de ter menor potência, fornece mais torque e pula na frente nas arrancadas.
O RAV 4 só supera o lançamento da BYD, mesmo, em conveniência. Isso porque ele tem alcance de pelo menos 790 quilômetros com um único tanque de 55 litros, que pode ser reabastecido – até mesmo com gasolina “batizada” – em qualquer posto. Já o Atto 3 tem alcance 45% menor, de 420 quilômetros, e a recarga completa de suas baterias (em uma tomada de energia doméstica, convencional) leva intermináveis 9h45. Usando um carregador rápido, vendido à parte, é possível garantir uma autonomia extra de 250 km em apenas 29 minutos ou fazer a recarga completa em 1h20.
Mais seguro e aerodinâmico
Em termos de dimensões, ambos os modelos são muito parecidos: com 4,60 metros de comprimento, o Toyota é 15 cm maior que o “SEV” chinês, que é 2 cm mais largo (1,87 m), mas tem porta-malas 10% menor (de 500 l, no RAV4). Em termos de peso, o Atto 3 chega com 20 quilinhos a mais (1.750 kg), mas seu coeficiente de arrasto aerodinâmico (Cx) é menor: 0,29 contra 0,32, do Toyota. Já por dentro, o chinesinho sobressai não só pelo maior espaço interno – decorrente da distância entre-eixos 2 cm maior – mas pelo uso de melhores materiais de acabamento que, diga-se de passagem, vem sendo depauperado pela marca japonesa sem a menor cerimônia.
O “SEV” chinês também vence o RAV 4 no campo da segurança – quem diria! – com melhores resultados nos testes do EuroNCAP. Ambos receberam cinco estrelas do programa, mas o Atto 3 obteve maiores notas em proteção para crianças e pedestres, além de oferecer um pacote mais avançado, que inclui câmeras, 12 sensores e seis radares – ao todo, são nove sistemas de alerta, reconhecimento e assistência. No campo telemático, mais um ‘round’ vencido pelo chinesinho, que conta com dois visores, incluindo um frontal – e giratório – de 15,6 polegadas, que não dá nem para comparar ao arremedo de 7 pol que o Toyota traz acima do console.
Cabe sublinhar que o lançamento da BYD só é ofertado com tração dianteira, enquanto o RAV 4 que citamos tem tração integral permanente, mas as transformações do mercado apontam nesta direção e os 4×4 grandalhões parecem cada vez mais relegados a um nicho ou ao passado. Parafraseando um primo sul-matogrossense, com o Toyota até que dá para encarar uma aventura no Pantanal, o que seria impossível a bordo do Atto 3. Já para quem tem que encarar desafios cotidianos até mais “radicais”, como o vai e vem do trabalho, o leva e trás dos filhos, uma ida ao teatro ou o jantar em um restaurante, uma viagem curta de final de semana ou, apenas e tão somente, um dia no clube na beira da piscina, o “SEV” chinês é mais econômico, moderno, ecológico, dinâmico, seguro e confortável. Só isso…